São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Um passo no campo

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Nem tudo é trágico no difícil período por que passa a agricultura brasileira. Nas dobras da mobilização dos produtores, a Contag (Confederação dos Trabalhadores Agrícolas) conseguiu arrancar do Ministério da Agricultura o que buscava havia uns 30 anos.
Trata-se, em primeiro lugar, da definição do que é pequeno produtor. É quem explora até quatro módulos fiscais, tamanho que varia de Estado para Estado e de produto para produto. Em São Paulo, no caso por exemplo do algodão, pequeno produtor é quem explora cerca de 70 hectares.
Além disso, é pequeno produtor quem tira 80% de sua renda bruta da agricultura.
Feita a definição, o governo prometeu também um financiamento de cerca de R$ 1,6 bilhão para esse grupo, até aqui praticamente à margem dos mecanismos creditícios, exatamente pelo seu tamanho.
Francisco Urbano, o presidente da Contag, diz que essa verba é claramente insuficiente. Vai dar, no máximo, para atender entre 300 mil e 400 mil pequenos produtores, quando a Contag conta com cerca de 10 vezes mais filiados (4 milhões no total, o que inclui parceiros e arrendatários).
Mas é um passo. Mais importante ainda na fase atual, em que a crise, se machuca os grandes, tende a ferir de morte os pequenos.
Em tese, seria um problema, digamos, rural, um problema dessa fatia da população que fica à margem do asfalto, no qual ocorrem os grandes lances políticos e econômicos e no qual a presença da mídia é mais acentuada.
Não é bem assim: se não tiver possibilidade de produzir, o pequeno agricultor larga tudo, vem para as cidades, incha as suas periferias e engrossa o contingente dos sem-nada, que é grande o bastante para dispensar novas adesões.
Resta agora, espera Urbano, que o Conselho Monetário Nacional sacramente o acordo entre o ministério e a Contag e que o governo crie um projeto de desenvolvimento rural que inclua apoio à agricultura familiar. Os pequenos produtores agradeceriam. As cidades deveriam agradecer também.

Texto Anterior: Entre maio e julho
Próximo Texto: Negritude de resultados
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.