São Paulo, sábado, 29 de julho de 1995
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Até o ano 2000

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Era a oportunidade, a ``photo-op" que Alberto Fujimori queria. Ele derrubou o Congresso, mudou a Constituição para ser reeleito, fez o diabo e não acabou com o Sendero Luminoso, que segue matando.
Mas estava lá, na ``photo-op" da Bandeirantes, das redes brasileiras, entre as duas potências locais, entre Carlos Menem e Fernando Henrique.
Anistiado e sustentado por Brasil e Argentina.
Foi assim, entre os dois, que o presidente do Peru andou pelos corredores, orgulhoso, em interpretação ostensiva para as câmeras.
Na CNN, a mesma coisa. Enquanto discursava, estavam lá, ao seu lado, firmes, o brasileiro e o argentino.
Também apareceram para a cerimônia, segundo a CBN, ``os 120 deputados peruanos", eleitos para o novo Congresso, sob as normas devidamente depuradas.
Também apareceu para a cerimônia, mas ficou do lado de fora, segundo a Bandeirantes, ``todo o Exército do Peru". Foi para ``patrulhar as ruas de Lima na posse do presidente reeleito".
``O presidente reeleito." Na Globo, ``o segundo mandato consecutivo". Na CBN, ``Alberto Fujimori vai ficar na Presidência mais cinco anos, até o ano 2000".
Não é o único, na América Latina. Carlos Menem, à sua esquerda, também mudou as regras e acaba de ser reeleito. Fernando Henrique, à sua direita, ainda reluta, diz que não, mas, quem sabe, talvez.

Candelária vermelha
Já parecia que o segundo aniversário da chacina da Candelária ia passar em branco, quando não em rosa, como no último Fantástico. Mas ontem a Manchete e a Bandeirantes soltaram o verbo. Na Manchete:
- É, e o Rio amanheceu com uma pichação diferente. Em vez dos rabiscos sem significado, os desenhos lembravam o descaso com a chacina da Candelária, crime bárbaro que chocou o mundo. Os bonecos foram pintados em vermelho, junto com a palavra impunidade, silenciosos e anônimos, como os sete meninos cruelmente assassinados há dois anos.
Palavras que, na verdade, nem eram necessárias. A imagem das silhuetas dos sete corpos, em vermelho na calçada, já era crítica o bastante.

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