São Paulo, sábado, 29 de julho de 1995 |
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Tom Sawyer e Huck Finn estão de volta
JOSÉ GERALDO COUTO
O primeiro, traduzido pelo poeta Duda Machado, chega às livrarias nos próximos dias. ``Huck Finn", com tradução de Sergio Flaksman, sai em setembro. O público-alvo das novas versões continua a ser o juvenil, embora Twain não gostasse de se ver restrito a essa faixa etária. O escritor estava certo. Ao longo dos últimos cem anos, ``Tom Sawyer" (de 1876) e ``Huck Finn" (de 1884) deleitaram jovens e adultos de todo o mundo. Para o escritor Ernest Hemingway, que não escrevia propriamente para garotinhos, ``toda a literatura norte-americana saiu de um livro chamado `Huckleberry Finn"'. Outra novidade do ``Huckleberry Finn" da Ática será a publicação do trecho inédito do livro encontrado recentemente entre os manuscritos do autor. O trecho -que deveria fazer parte do capítulo 9- será editado como apêndice, fora do corpo do romance, na edição brasileira. Publicado na penúltima edição da revista ``New Yorker", o trecho traz uma história cômico-macabra contada ao protagonista pelo escravo fugido Jim: encarregado de aquecer um cadáver numa mesa de dissecação, Jim vê o morto abrir os olhos e mover as pernas. A publicação do inédito aqueceu a discussão sobre o suposto racismo dos livros de Twain. A principal implicância dos patrulheiros da correção política, que chegaram a pedir o banimento de ``Huck Finn" das escolas americanas, diz respeito ao uso frequente da palavra ``nigger" (termo pejorativo para negro) nos dois livros. Mas, como mostra o escritor William Styron no mesmo número da ``New Yorker", ``nigger" era o termo usado correntemente por um garoto pobre do Sul em meados do século 19, quando a palavra ``escravo" só constava de documentos e discursos oficiais. Polêmicas à parte, os dois livros são obras-primas ao mesmo tempo complementares e opostas. ``Tom Swayer" pode ser visto como um ensaio para ``Huckleberry Finn". Mais comportado no tema e no estilo, o primeiro conta, em terceira pessoa, as traquinagens do garoto Tom Sawyer em sua cidadezinha, à beira do Mississippi. Embora malandro, Tom é um menino de família que vive com a tia. Já Huckleberry Finn, um de seus amigos, é o ``jovem pária da cidade". Filho de um bêbado, ele ``dormia na porta das casas quando fazia bom tempo e dentro de barris vazios quando chovia". No segundo livro, Twain dá o que o escritor E. L. Doctorow considera um passo gigantesco para a literatura americana ao assumir o ponto de vista de Huck, o pária. Narrado em primeira pessoa por Huck, o romance conta sua saga numa jangada pelo Mississippi, junto com o negro Jim. Huck foge do pai, Jim foge da escravidão. Toda a crueza da ``civilização" americana é exposta com humor e ironia nessas páginas admiráveis. Livro: As Aventuras de Tom Sawyer Autor: Mark Twain Tradução: Duda Machado Páginas: 212 Preço: R$ 10,90 Texto Anterior: Provincianismo derruba o escultor Próximo Texto: 'Acossado' prova genialidade de Godard e traça história do cinema Índice |
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