São Paulo, sábado, 29 de julho de 1995
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Acelera, Brasil

EMERSON KAPAZ

Está mais do que na hora de tirar o pé do freio e voltar a acelerar. Tanto assim que o governo federal já começa a emitir os primeiros sinais de que a atual política de contenção da economia, por meio da manutenção de altas taxas de juros e contingenciamento do crédito, será atenuada.
Para entender os movimentos que conduzem a política econômica é preciso, antes, olhar para o retrovisor. E nunca esquecer que o maior patrimônio a ser preservado era -e continua sendo- a estabilidade da moeda e a consequente vitória sobre a inflação, esta, sim, o grande vilão a ser banido da estrada econômica brasileira.
Há um ano, ninguém poderia imaginar um crescimento econômico da ordem de 10% a 12%, como se verificou no segundo semestre de 94 e nos primeiros meses deste ano. A atual estrutura produtiva do país simplesmente não aguentaria esta velocidade alucinante.
Não tínhamos produção suficiente para atender a uma elevação do consumo tão rápida. E o atalho das importações para equilibrar a oferta, depois das crises do México e da Argentina, mostrou a todos como é perigoso o roteiro dos déficits da balança comercial.
Era necessário, sem dúvida, frear o carro da atividade econômica. Difícil era controlar a intensidade da freada. Tinha que ser suficientemente firme para conter a demanda em níveis suportáveis e não-inflacionários. Mas não tão pesada a ponto de inviabilizar o desejável investimento no aumento da capacidade de produção das empresas.
Trata-se de manobra que exige pulso firme, rapidez de reflexos e rara perícia. Os pilotos do governo federal demonstraram grande habilidade ao volante, evitando um desastre fatal para o país. Uma freada brusca, com o carro a 120 por hora na entrada da curva, sempre dá margem a derrapadas. Mas é preferível derrapar a capotar. A velocidade realmente diminuiu, e a possibilidade de um acidente maior foi afastada.
Agora é chegada a hora de voltar a acelerar e recuperar a velocidade de cruzeiro. O carro da economia não pode continuar parado com medo da curva, pois corre o risco, visível, de ser abalroado por trás e provocar um engavetamento de empresas e empregos.
Para manter o carro sob controle é preciso reduzir a taxa de juros, que hoje é de 30% a 40% acima da correção do dólar líquido. Como já disse o presidente FHC, trata-se de um patamar escorchante. A metade disso já seria suficiente para manter os capitais externos em nosso veículo. Ao mesmo tempo, deve-se afrouxar a contenção do crédito. A combinação de juros altos e contingenciamento do crédito é mortal para vários setores. Provoca desaquecimento não só do consumo mas também da produção, o combustível da economia.
Se o governo não começar a mudar agora a política de contenção da demanda, o motorista vai descobrir, alguns quilômetros adiante, que a curva perigosa foi vencida -mas que a manobra consumiu todo o combustível. Teremos que procurar um posto, perder tempo com o reabastecimento, completar o óleo e checar a calibragem dos pneus.
Pura perda de tempo para o encontro marcado entre a economia brasileira e as oportunidades do mercado global.

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