São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 1995
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Retomada não pode ser febre passageira

Investimento federal ainda é tabu

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O renascimento sustentado da produção cinematográfica é outra utopia para este ano de celebrações do centenário no Brasil. Uma retomada pontual já é um fato.
Cerca de 30 novos longas-metragens devem ficar prontos nos próximos 12 meses, numa combinação de esforços privados alavancados por apoios federais (sobretudo as duas versões do Prêmio Resgate), regionais e municipais.
O leque será amplo, abarcando de próceres cinemanovistas como Cacá Diegues e Walter Lima Jr. a revelações do curta como Beto Brant, Cecílio Neto, Monique Gardenberg e Tata Amaral.
Primeiro desafio: garantir o desembarque dessa safra nas salas de cinema. Os bons tempos para o mercado exibidor não tiveram igual repercussão para o filme nacional pronto.
"Carlota Joaquina", de Carla Camurati, foi a exceção positiva e "Sábado", de Ugo Giorgetti, e "O Menino Maluquinho", de Helvécio Ratton, sentiram na carne o que é padecer com um circuito aquém de seu potencial de mercado.
Segundo: evitar que a safra 1995-96 seja apenas uma bolha produtiva que venha a ser sucedida por outra década de marasmo. É esta a questão central.
Pouco mais que boas intenções o têm enfrentado. O governo federal demonstrou cumplicidade ao instalar uma câmara setorial para a produção audiovisual. Este pode vir a ser um canal de debate útil para agilizar a solução de problemas localizados como dúvidas de legislação específica, dificuldades operacionais estúpidas etc.
É preciso mais. Apenas seis meses depois de empossado, trabalha-se na definição de uma política cinematográfica e audiovisual do governo federal.
Um tema parece tabu, estigmatizado mais pelas lendas do que pelos verdadeiros problemas da finada Embrafilme: a inversão direta de recursos federais na produção. Renúncias fiscais são importantes, mas de alcance limitado.
Outro tabu precisa ser vencido: o do relação entre cinema e televisão. Vale repetir: o cinema contemporâneo europeu e boa parte da produção independente americana encontra na TV seu principal parceiro.
Entrevistas recentes de Roberto Irineu Marinho confirmam que a resistência na Rede Globo ainda é grande. A boa nova foram as declarações na última sexta-feira, em debate no Rio Cine Festival, de Jorge da Cunha Lima, presidente da Fundação Padre Anchieta e principal executivo da TV Cultura de São Paulo, garantindo a implementação de uma política cinematográfica na emissora através de coproduções com produtores independentes. Depois das duas experiências-piloto em 94, com Cacá Diegues e Marco Altberg, um plano estável seria uma revolução.
Talentos não faltam. Público existe. Interesse internacional também -no próximo mês, entre outros, emplacam-se dois filmes ("Carlota" e "16060") nas paralelas de Veneza e um ("Terra Estrangeira") na competição em San Sebastian.
Como diria Oscarito, com jeito vai.

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