São Paulo, quinta-feira, 3 de agosto de 1995
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A revolução automobilística

LUÍS NASSIF

Conforme anunciou a Volkswagen, sua fábrica de caminhões, em Resende, deverá incorporar os mais modernos métodos gerenciais da atualidade. É importante que as autoridades levem em conta essas mudanças na hora de desenhar a política de abertura da economia.
O modelo consiste em definir de três a quatro níveis de fornecedores. O primeiro nível -a ser constituído por quatro grandes fornecedores- será incumbido de fabricar componentes básicos pré-montados dos veículos.
A montadora limitar-se-á a montar os componentes, dentro de uma estrutura física consideravelmente inferior às atuais, e a cuidar dos aspectos de marketing, vendas e coordenação de rede.
Segundo a publicação ``Interação" (mencionada no trabalho ``A reestruturação do setor de autopeças", preparado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC), cabe ao primeiro nível de fornecedores conduzir o desenvolvimento e planejamento do produto, gerenciar a pirâmide de suprimento e fornecer o subconjunto pronto e pré-montado. As empresas do segundo grupo fornecem componentes, peças isoladas e materiais para as do primeiro grupo. Estas, por sua vez, contratam empresas do terceiro e quarto grupos para o fornecimento de peças e materiais isolados.

Antiglobalização
Na verdade, o modelo proposto já faz parte de uma revolução gerencial em marcha, já delineada por grandes teóricos industrialistas, como Michael Porter -que, de certa forma, contrapõe-se à idéia da globalização da economia.
Pela globalização, a empresa passa a buscar fornecedores nos quatro cantos do planeta, onde houver componentes baratos e de qualidade.
A partir da análise de vários casos de sucesso, Porter desenvolveu (ou descreveu) um outro paradigma. Demonstrou que grande parte das vantagens comparativas de empresas residia na possibilidade de dispor de fornecedores perto de si.
Em parte, pela economia de transportes e de estocagem -facilitando o chamado ``just-in-time" (ou seja, a imobilização em estoques necessários para o menor prazo possível). Mas, principalmente, pela possibilidade de induzir os fornecedores a serem criativos na busca de soluções específicas, que confiram diferenciais ao produto.
A Fiat já anunciou que não pretende trabalhar com fornecedores dispostos a mais de 80 quilômetros da fábrica. Recentemente, inclusive, fechou acordo com a Usiminas, pelo qual a empresa passará a estampar parte das carrocerias dos veículos.
A Volks vai pelo mesmo caminho. Na implantação de sua fábrica de motores, em Taubaté, pretende juntar seus fornecedores em um distrito industrial em volta da fábrica.
Esse modelo provocará mudanças significativas no setor de autopeças nacionais. O trabalho do sindicato prevê que não haverá mais do que 300 fornecedores de primeiro nível no país. Atualmente, cada montadora relaciona-se diretamente com 400 fornecedores. No novo modelo, não deverá trabalhar com mais do que 60 a 70 fornecedores diretos.
Por tudo isso, é temerária a mera abertura do mercado de autopeças, sem um planejamento industrial prévio de longo prazo, acordado entre todos os setores.

Tributos
Dias atrás, a coluna informava que, para confirmar o cenário traçado por ela no início de maio -a respeito das sequelas da política de juros- faltava apenas a queda na arrecadação fiscal. Não falta mais.

Fisiologia ``muderna"
Agora, o governo passará a pagar a fatura pela aliança com a ``mudernidade" pefelista. A recente grita dos próceres nordestinos do partido contra a unificação de ICMS e IPI não se prende à presumível timidez da proposta. O que eles temem mesmo é o fim de um modelo obtuso de incentivos fiscais -baseados nos fundos de participação- que os tornaram intermediários dos recursos federais e ajudaram a perpetuar o atraso político e social da região.

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