São Paulo, sexta-feira, 4 de agosto de 1995
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Acertos superam erros no jovem Maria

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sempre que, na mesmice gastronômica paulistana, alguém se esforça em servir algo diferente, merece aplauso. Mesmo que comece ainda um pouco atrapalhado, como no caso do Maria.
O restaurante é tocado diretamente pelas duas proprietárias, as irmãs Cristina, 37, e Bárbara Marruecos, 36. Esta no salão, aquela na cozinha.
É alvissareiro que, mesmo tendo experiência limitada, Cristina coloque a mão na massa, cercando-se de profissionais com experiência.
Vinda de outras áreas, Cristina fixou-se na restauração a partir de 1992, ao tornar-se sócia do restaurante e pizzaria Cactus, cuidando da cozinha. Nesta época fez estágios, cursos, mergulhou fundo no assunto.
Em 1994 vendeu um apartamento, comprou um interessante imóvel na Vila Madalena (um antigo atelier), teve o apoio financeiro da família (inclusive da irmã e sócia), chamou o arquiteto Arthur de Mattos Casa para reformar o espaço. Um ano depois estava erguido o Maria.
Enquanto corria a obra, que resultou num espaço amplo e luminoso, de moderno bom gosto, Cristina elaborava o cardápio para a inauguração, em maio último. Para isso, buscou a assessoria da consultora Lelena Cesar, experimentou ingredientes de cara mais brasileira (como mandioquinha, cará, abóbora) e hoje oferece uma cozinha meio italiana, meio sem pátria.
Os pratos do enxuto cardápio têm bonita apresentação e combinações saudáveis de ingredientes. Os spaghetti com pesto de sálvia, enriquecidos com alho-poró, abobrinha e pinolis inteiros, oferecido como sugestão em alguns dias, são harmônicos e suaves.
O carpaccio primavera tem grãos de mostarda e flores comestíveis inteiras (é a moda...). Os gnocchi são de beterraba, com molho de manteiga.
O filé mignon, de carne pouco suculenta, vem muito bem acompanhado: um saboroso creme de alho-poró e galette de abóbora. O filé de cordeiro é macio e no ponto, com molho de hortelã.
A trouxinha do mar é um equívoco: frutos do mar embrulhados em massa japonesa, com arroz selvagem puro (sem o branco misturado), tudo muito seco (até o molho de tomate que acompanha é em conta-gotas).
A pêra cozida submerge ante o sabor da calda de ameixa; mas a panna cota funciona, combinada com calda de damasco. Entre erros e acertos, lá vai Maria, no bom caminho.

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