São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Política recessiva ameaça base governista

MAURICIO PULS
DA REDAÇÃO

A política recessiva adotada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso ameaça desagregar a base governista na Câmara. A maioria dos deputados é formada por empresários, cujas atividades estão sendo prejudicadas pela recessão.
Uma análise das votações neste ano mostra que, apesar das sucessivas vitórias do Planalto, a dissidência na bancada governista vem crescendo desde maio -quando os sinais de crise se agravaram- e já é capaz de impedir a aprovação de novas emendas constitucionais.
Um levantamento da Folha revela que no mínimo 280 deputados (54,6% da Câmara) possuem pelo menos um empreendimento empresarial. Na bancada governista, essa proporção é ainda maior: 65,0% (254 deputados em 391).
A recessão reduz a rentabilidade das empresas, provocando falências e concordatas. Além de atingir diretamente os deputados-empresários, ela prejudica as ``bases" dos parlamentares -industriais, comerciantes e agricultores que financiam suas campanhas.
A correlação entre a recessão e a dissidência governista se manifesta claramente nas críticas ao governo feitas pela bancada ruralista, que representa o setor agropecuário. Dos 391 deputados governistas, 116 são empresários rurais.
A agropecuária foi o setor mais afetado pelo desaquecimento da economia, porque a elevação dos juros coincidiu com uma queda nos preços dos produtos agrícolas. Isso causou vários protestos -como a ``Marcha sobre Brasília".
Mas a recessão não atinge só o campo. Os sintomas da crise são cada vez mais fortes também nas cidades. Segundo a Associação Comercial de São Paulo, houve 1.032 pedidos de falência no Estado em julho, um recorde histórico.
Duas grandes cadeias varejistas, Mesbla e Casa Centro, pediram concordata, e um grande banco enfrenta notórias dificuldades. O nível de emprego na indústria paulista está caindo desde maio, segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Vários órgãos empresariais criticam a política recessiva. O ato mais recente ocorreu em 31 de julho, quando os presidentes da Fiesp, CNI (Confederação Nacional da Indústria), SRB (Sociedade Rural Brasileira) Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos) pediram medidas para reduzir as taxas de juros.
A oposição ao governo também está crescendo no Congresso. No início de maio, existiam apenas 11 dissidentes na bancada governista. Em 6 de junho, 40 deputados se rebelaram; no dia 27 de junho, eles já somavam 49 parlamentares.
Nessa última votação, o governo obteve 297 votos contra 147 da oposição. Apesar da vitória, o resultado não seria suficiente para uma emenda constitucional -como a da reforma tributária-, que requer no mínimo 308 votos.
Dada a proximidade da eleição de 1996, o alinhamento automático com o governo também não parece mais tão atraente, quando se nota que a aprovação do Real vem caindo desde o final de 1994.

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