São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Maioria é jovem e solteira

VICTOR AGOSTINHO; BETINA BERNARDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos refugiados que vivem no Brasil vem de centros urbanos, é jovem, solteira, tem o segundo grau incompleto (se tanto) e nenhuma qualificação profissional.
O perfil dos que estão morando no Brasil foi traçado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), entidade que representa os refugiados e faz o acompanhamento da situação jurídica de cada um.
Além disso, o Acnur dá, a título de ``ajuda humanitária", R$ 82,00 a cada refugiado por cerca de oito meses -tempo que geralmente leva para sair a autorização e documentação de trabalho.
Segundo conta Cristian Koch-Castro, 41, engenheiro agrônomo chileno encarregado do Acnur no Brasil, os novos refugiados começaram a chegar ao país em 1993, fugidos da guerra civil angolana.
Antes desses, procuravam abrigo no Brasil os chilenos, ameaçados pela ditadura Pinochet, e os sobreviventes da Segunda Guerra Mundial, principalmente os que viviam no Leste Europeu.
Uma análise dos dados do primeiro semestre deste ano, feita pela Cáritas (entidade vinculada à Arquidiocese de São Paulo e que presta ajuda aos refugiados) mostra que entraram no país 483 pessoas -44 estudantes, 19 mecânicos, 18 técnicos, 17 eletricistas, entre outros.
Com curso superior completo, apenas 15 refugiados. A maioria engenheiros e pedagogos (quatro pessoas em cada profissão).
Somente cinco refugiados que entraram no primeiro semestre no país vieram do campo, e da África. O restante morava em centros urbanos.
Para Koch-Castro, um problema sério entre os refugiados é que muitos deles acreditam ter direitos que realmente não têm.
``Eles acham que é obrigação da comunidade internacional mantê-los em outros países. Mas a realidade mostra que isso é impossível", disse.
O chefe da Acnur no Brasil faz questão de explicar que as Nações Unidas não querem criar ``uma casta ou elite de refugiados".
Mas Koch-Castro afirma também que as Nações Unidas não podem deixar de lado a tragédia individual de cada refugiado. ``É um drama a vida deles", afirmou.
No primeiro semestre deste ano, 190 pessoas foram excluídas da ``ajuda humanitária" da Acnur.
(VA e BB)

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