São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Evite as armadilhas dos juros nos empréstimos

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

As restrições ao crédito começam a ser lentamente desmontadas, mas continuam intactas as armadilhas dos juros que já fizeram milhares de vítimas no Plano Real, da compra de eletrodomésticos aos pacotes turísticos.
Com as atuais taxas de juros, o melhor conselho que se pode dar é que o consumidor fuja de qualquer financiamento. Comprar, só à vista, exigindo sempre um desconto.
Depois que se entra ``no vermelho", a saída torna-se cada vez mais difícil porque os juros não cairão tão já e os reajustes salariais devem ficar mesmo com a periodicidade anual, sem a garantia da reposição integral.
Nos últimos meses, a classe média se viu mais apertada com os ``negativos" do cheque especial, muitas vezes acionado para pagar outras contas já vencidas.
O tipo de cobrança de juros no cheque especial varia de banco para banco. Alguns trabalham com o cálculo para dias úteis, outros para dias corridos. O que todos têm em comum é a taxa mensal alta, de 12,50% a 15% ao mês, com o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) embutido.
A taxa é diária, obtida de forma linear (15% ao mês e 0,5% ao dia corrido) ou exponencial (0,668% ao dia útil, no caso de mês com 21 dias úteis).
Para quem se vê às voltas com saldo negativo e tem dinheiro aplicado, pode ser mais vantajoso sacar antes do prazo e cobrir a conta, mesmo perdendo o rendimento.
Imagine que você tenha uma poupança de R$ 1.000 que vá render 3,5% e um negativo de R$ 500 no cheque especial a 15% ao mês.
Ao final de 30 dias, o rendimento da poupança será de R$ 35 e o débito de juros no cheque, de R$ 75. Valeria a pena ter sacado R$ 500 da poupança. Um fundo rende em torno 0,15% líquidos ao dia útil. No crédito vai a 0,668%.
No cheque especial, como no cartão de crédito em atraso, que também trabalha com juro alto e na maioria deles multa de 10%, quanto antes liquidar o débito melhor. No cartão isso pode ser feito com extrato avulso.
No cheque especial, entretanto, mesmo que você cubra o saldo negativo com folga, há bancos nos quais a parcela do juro continua sendo corrigida até o final do mês.
Suponha que haja saldo negativo de R$ 1.000 a 0,688% ao dia. No 10º dia útil você tem um débito de R$ 68,82 só de juros e deposita R$ 1.100 na conta.
Em alguns bancos, você zera apenas os R$ 1.000 negativos. A parte do juro continua correndo e no início do mês seguinte o débito de juros não será de R$ 68,82, mas de R$ 74,05.
Diante de uma oferta de três pagamentos ``sem juros", com cheque pré-datado, exija sempre um desconto na compra à vista.
Se você tem dinheiro disponível e estima 3,5% ao mês nas aplicações financeiras, um simples desconto de 3,5% já é mais vantajoso que o parcelamento em três vezes, diz o matemático financeiro José Dutra Vieira Sobrinho.
Mas os descontos em geral não são quebrados. Se a loja oferece desconto de 5%, sem dúvida será melhor pagar à vista. Do contrário, estará pagando 5,36% de juros ao mês. Parece pouco diante das taxas do crediário, mas nem banco consegue isso hoje emprestando dinheiro a outro ou ao governo.

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