São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Kuait mantém marca da guerra The independent MICHAEL SHERIDAN
Comparado com o mundo como os kuaitianos o conheciam em 1990, o presente é um lugar muito estranho. Acabou para sempre a idéia fantasiosa de um arabismo não-alinhado e o falso conceito de que as potências estrangeiras exerciam pouca influência sobre os governantes do golfo Pérsico. Hoje o Kuait é garantido por pactos de segurança com o Reino Unido, os EUA, a França e a Rússia. Antigamente o Kuait se orgulhava de sua tolerância e, pelos padrões vigentes do golfo, de uma certa dose de liberalismo. A tolerância não sobreviveu aos sete meses da ocupação. Hoje o Kuait é um lugar menos cosmopolita do que era. Grandes contingentes de trabalhadores estrangeiros vindos do subcontinente indiano abandonaram o país após a invasão. Quando o Kuait foi liberado, dezenas de milhares de palestinos foram expulsos do emirado, pagando o preço do apoio popular palestino a Saddam Hussein. Paradoxalmente, no entanto, o clima político vigente no Kuait é de longe o mais liberal no golfo. Seu Parlamento ativo e sua imprensa contestadora parecem reprovar tanto o totalitarismo ainda praticado em Bagdá quanto as autocracias modorrentas que governam outros países da região. Mas o Kuait não é uma democracia ao estilo ocidental. O voto é restrito e os poderes do Parlamento sofrem limitações constitucionais. Apesar disso, os representantes eleitos do Kuait criticam a política do governo e questionam o Orçamento. Tanto a tendência islâmica quanto a liberal têm voz ativa. Há denúncias de corrupção contra alguns membros da família governante Al-Sabah. Os EUA e outros países ocidentais também vêem as modestas liberdades políticas vigentes no Kuait como possíveis modelos para a modernização de outras monarquias na região, embora isso talvez seja muito otimismo. Há fatores fundamentais -Iraque e preços do petróleo- que ainda determinam a realidade dos kuaitianos, de seus vizinhos árabes conservadores e de seus aliados ocidentais. O dilema ainda não resolvido do Iraque paira sobre todos os aspectos da política kuaitiana. O emirado acredita ser mais seguro seguir uma linha dura. Na semana passada, o primeiro-ministro kuaitiano rejeitou propostas iraquianas que acompanhavam a campanha movida por Saddam Hussein pelo fim das sanções da ONU. Estatísticas recentes de Bagdá mostram que o Iraque vem se rearmando. Isso assusta o Kuait, apesar de o Iraque afirmar que desmontou suas armas de destruição maciça. O Kuait tem consciência de que sua arma mais forte ainda são as sanções da ONU impostas a Bagdá. Essas medidas deixam o Iraque afastado do mercado petrolífero mundial, o que mantém os preços instáveis. Os poços do Kuait estão funcionando normalmente outra vez e respondem por 98% da receita nacional de exportações. Em 1994, a produção de mais de 2 milhões de barris por dia rendeu mais de US$ 11 bilhões -a primeira vez que o país ultrapassou sua receita do pré-guerra (US$ 10,2 bilhões). Tradução de Clara Allain Texto Anterior: EUA tentam se livrar da culpa pela bomba Próximo Texto: CDs recriam os sons da natureza Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |