São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Argentino é voluntário na guerra da Bósnia

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

Rubén Tzanoff, argentino, casado, 29 anos, está a caminho da Bósnia. Vai compartilhar as trincheiras com bósnios e croatas na guerra contra sérvios.
Tzanoff integra a brigada internacional Não Passarão, que partiu de Barcelona, na Espanha, no último dia 1º com destino à cidade de Tuzla.
É o único latino-americano -entre mais de 40 voluntários europeus- a compor essa segunda brigada de solidariedade à Bósnia.
``Existe uma guerra de ocupação e de extermínio do povo bósnio", afirmou Tzanoff à Folha.
``Os sérvios estão recriando os métodos nazistas usados para exterminar os judeus. E fazem isso com a cumplicidade da ONU."
Militante da revolução socialista, ele acatou a determinação do partido Movimento Socialista do Trabalhador (MST), em que é coordenador da ala jovem.
``Não se trata apenas de uma decisão pessoal. Sou parte do MST, partido com grande tradição internacionalista", disse.
Tzanoff há oito anos é filiado ao MST -que se denomina irmão do PT brasileiro e que tem cartazes da CUT (Central Única dos Trabalhadores) em sua sede.
O partido já enviou militantes às guerrilhas de outros países. Eles lutaram ao lado dos sandinistas, na Nicarágua, e contra a invasão norte-americana no Panamá.
Tzanoff estuda Ciências Sociais na Universidade de Buenos Aires e trabalha na Secretaria de Agricultura -um órgão do Ministério da Economia conduzido pelo ministro Domingo Cavallo.
Sua brigada deve permanecer na Bósnia por 20 dias. Como todo combatente, Tzanoff espera retornar -são e salvo. Ele partiu no período de suas férias no trabalho.
A missão de Tzanoff, em princípio, será trabalhar na reconstrução da biblioteca da Universidade de Tuzla, destruída durante os bombardeios sérvios.
Mas embarcou disposto a um trabalho menos tranquilo. ``Os acontecimentos mais recentes na Bósnia nos levam a aceitar qualquer tipo de tarefa."
O custo de sua viagem, segundo afirmou, foi coberto com a venda de uma revista sobre o conflito na Bósnia, editada pelo próprio MST.
O restante do valor foi doado pela Federação Universitária de Buenos Aires, centro estudantil.
O MST critica o envio de 800 soldados argentinos às forças de paz da ONU. ``Não temos nada que ver com as autoridades, que estão do lado da ONU", afirmou.
Ele chega até mesmo a insinuar que os capacetes azuis (forças de paz da ONU) estariam colaborando com os sérvios.
Na verdade, a ONU intervém em quatro encraves muçulmanos (áreas protegidas), além dos dois já tomados pelos sérvios.
Tzanoff não disse uma palavra objetiva sobre seu preparo para possíveis combates. ``Sabemos aonde vamos. Temos tradição internacionalista e tomamos as providências necessárias."

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