São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Garota que acusou índio está na cadeia

SÉRGIO DÁVILA

Em junho de 1992, a estudante Sílvia Letícia de Luz Ferreira, então com 18, acusou Paiakan de tê-la estuprado numa chácara a cinco quilômetros de Redenção. Segundo ela, Irekran, mulher do índio, teria ajudado o marido, com torturas.
Em novembro de 1994, o juiz Élder da Costa absolveu Paiakan por falta de provas, mas concluiu que Irekran era culpada por agressão. Acontece que, pelo Estatuto dos Índios, ela não pode ser condenada por "não estar familiarizada com o costume dos brancos".
Corte. Delegacia de Redenção, três semanas atrás. A dona-de-casa Sílvia Letícia de Luz Ferreira, 21, está presa, acusada de tentar facilitar a fuga do marido, Roberto Afonso Cruz, que cumpre 19 anos por homicídio e roubo de carros. "Isso é uma calúnia culposa", brada ela de dentro de uma cela imunda, 1 m por 2 m, uma rede no lugar da cama.

Fundo falso
Segundo o delegado Aldo Gomes de Castro, ela foi presa em flagrante ao tentar entregar ao marido uma garrafa térmica com fundo falso. Ali, os policiais teriam achado uma broca, seis serras, um eletrodo e dois ferros pontiagudos. Se condenada, Sílvia pode pegar até dois anos de prisão.
"É mentira", diz ela. "A garrafa que eu trouxe era outra, não tinha nada disso". Roberto Afonso Cruz fazia parte do bando mais temido de ladrões de carro do Pará e casou-se com Sílvia em 1993. Têm uma filha de 1 ano, que ela ainda amamenta.
Diz Sílvia Letícia: "Meu marido é honesto. Nossa prisão tem tudo a ver com o Paiakan. Como vou pedir audiência no Supremo Tribunal Federal de Belém no final de agosto e pedir para reabrir aquele caso e como o Paiakan me estuprou, ele fica fazendo armação para mim".
Diz Paiakan: "Não sabia que ela estava presa. Ela pode fazer como quiser. De minha parte, não quero prejudicar ninguém, não vou continuar competindo com ninguém".
Diz o delegado Castro, 21 anos na polícia, seis anos na região, seis meses em Redenção, quatro armas no coldre (entre elas uma Magnum 44): "Aí não tem nenhum santo".

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