São Paulo, segunda-feira, 7 de agosto de 1995
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Receita examina consultoria de Dallari

GUSTAVO PATÚ; LILIANA LAVORATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Receita Federal está investigando a participação do secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, José Milton Dallari, no escritório de consultoria Decisão, que assessora diversas empresas de grande porte.
Segundo a Folha apurou, a Receita elaborou um relatório apontando Dallari como o único sócio do escritório.
O secretário, ainda segundo o relatório, apresenta a empresa na declaração de IR (Imposto de Renda) como sociedade civil -o que exigiria a participação de mais sócios.
O atual administrador do Decisão, Luiz Benatti, não é sócio da empresa, segundo as informações da Receita.
Ontem, a Folha ligou para a casa de Benatti, em São Paulo, mas foi informada de que ele não daria entrevista.
A Folha também procurou Dallari em sua casa, em São Paulo, mas não o encontrou.
Pela legislação do IR, as sociedades civis têm vantagens em relação à maioria das pessoas jurídicas no momento de apresentar a declaração de rendimentos.
A investigação sobre Dallari, o encarregado no governo do acompanhamento dos preços, começou no governo Itamar Franco, pouco depois do lançamento do Plano Real. Ela foi determinada pelo então secretário da Receita, Osiris Lopes Filho.
Na época, a Receita investigava as contas da Abras (Associação Brasileira de Supermercados).
Foi encontrado um contrato de prestação de serviços da entidade com o escritório Decisão. Osiris determinou que da consultoria fosse investigada.
Descobriu-se que, além da Abras, o escritório tinha clientes importantes como a Apas (Associação Paulista de Supermercados) e a Nestlé.
As relações com supermercados chamaram a atenção porque, logo no início do Real, as empresas estavam ameaçando elevar preços.
Não era segredo no governo a participação de Dallari no escritório. Da própria declaração de renda do secretário em 1994 consta o recebimento de cerca de R$ 500 mil por conta da Decisão, segundo a Folha apurou.
Todas essas informações foram incluídas no relatório elaborado no ano passado pelos fiscais e apresentado ao secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, logo no início de sua gestão, em janeiro.
Dallari, que ganhou mais poder no Ministério da Fazenda na entrada do governo Fernando Henrique Cardoso -de assessor especial passou a secretário de Estado-, já tinha conhecimento das investigações.
A assessoria do ministro Pedro Malan (Fazenda) informou que o governo não se pronunciaria ontem, em caráter oficial, sobre as investigações da Receita em relação a Dallari.
O presidente Fernando Henrique Cardoso não quis comentar o assunto ontem.

Colaborou a Reportagem Local

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