São Paulo, segunda-feira, 7 de agosto de 1995
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Ataques de tubarões

OTTO BISMARCK FAZZANO GADIG

Ataques de tubarões estão aumentando em todo o mundo devido ao crescimento demográfico nas áreas litorâneas. Mais pessoas no mar, maior probabilidade de encontro com esses animais. Essa é a explicação em nível global. No Brasil, esses acidentes sempre ocorreram, mas eram negligenciados pelas autoridades, imprensa, público e até pesquisadores.
Em julho de 1992, esse patético quadro desabou, quando dois surfistas foram feridos por tubarões no Maranhão, com repercussão nacional. Era possível prever o que viria pela frente. A ampla divulgação estimulou a notificação de outros ataques, como se fosse novidade.
Não há dúvidas de que houve um notório aumento de acidentes na costa brasileira, e isso se deve a três principais razões:
1) como no resto do mundo, o crescimento populacional humano é o fator básico, sendo que, no último verão brasileiro, tivemos número recorde de usuários da faixa litorânea, com tendência a crescer ainda mais;
2) com a ampla divulgação dos ataques, o público ficou alerta a qualquer tipo de acidente na praia, de forma que os casos de menor gravidade -que sempre ocorreram- também passaram a ser veiculados;
3) a sequência de ataques contra surfistas registrados em Pernambuco, cuja causa ainda não é completamente conhecida, engrossou as estatísticas.
Dos 76 casos de ataques de tubarões registrados no Brasil entre 1927 e julho de 1995, a grande maioria se deu no Nordeste (51 casos). Nessa área, o segundo semestre é, estatisticamente, a época de maior risco, principalmente nos meses de julho e dezembro (férias).
Além disso, com a diminuição das chuvas, a salinidade da água do mar aumenta, criando um ambiente favorável à presença de várias espécies de tubarões. Resta saber o que acontece em Pernambuco, pois parece claro que lá existe mais um fator agindo (certamente causado pelo homem).
Pesquisadores da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), coordenados pelo Dr. Fábio Nazin, estão trabalhando há meses visando explicar as causas dos acidentes.
Enquanto isso, as praias da zona sul estão proibidas para o surfe. Tanto a pesquisa quanto a proibição do surfe me parecem atitudes bastante adequadas. Porém, é preciso ressaltar que isso não basta. Está sendo negligenciado um trabalho sério de educação junto ao público.
Ainda que tenhamos todo o conhecimento científico e as autoridades sejam bem-intencionadas, sem a educação os ataques continuarão ocorrendo.
Quem é o responsável e quanto? O que cada parte envolvida pode fazer para colaborar? Respondendo a essas questões e planejando uma linha de trabalho educacional, talvez possamos começar a obter as outras respostas.
Ao contrário do que se pensa, não é muito educativo dizer que estatisticamente os ataques são insignificantes, porque, mesmo sendo verdade, não é a opinião dos familiares das vítimas. É preciso sensibilidade para lidar com as pessoas. Os pesquisadores não podem permanecer distantes do público.
A imprensa deve informar de maneira mais equilibrada e não histérica. Às autoridades cabe viabilizar o trabalho dos pesquisadores. E o público, sobretudo os surfistas, deve cobrar informações e assumir comportamentos de menor risco.
Sem educação e sensibilidade o problema não vai ser minimizado satisfatoriamente. Clério, Albano, Laurenílson, entre outros, não são estatística. São histórias de vidas... e de mortes.

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