São Paulo, segunda-feira, 7 de agosto de 1995
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Casal mora em quarto de centro cultural com 4 filhos

Caçula nasce no Tendal da Lapa; família quer casa própria

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O vendedor de milho verde José Altino dos Santos, 33, chegou a São Paulo, vindo da Bahia, em 1976. Em 90, se mudou para a favela Jaguaré (zona oeste de São Paulo).
Lá, morou até janeiro deste ano, quando as chuvas deixaram seu barraco em área de risco, sujeita a desabamentos. A solução foi se mudar com a mulher, Roseli Mendes de Jesus, 21, e os três filhos para o Tendal da Lapa (zona oeste da cidade).
``Disseram que, se a gente não saísse, a polícia ia nos tirar à força", afirma. A família está lá até hoje e tem mais uma integrante: o bebê Helena, de 3 meses, que nasceu no abrigo.
``Disseram que a gente ficaria aqui só por quatro meses. Colocaram a gente e esqueceram", diz. A reportagem entrevistou Santos em 15 de fevereiro, pouco depois de se mudar.
Na época, ele disse que ``só saía para a casa própria". Na última semana, sete meses depois, ele e a mulher continuam com a mesma intenção.
Santos ganha cerca de R$ 300,00 por mês. O dinheiro sustenta as seis pessoas. ``Mas o bebê não dá muito gasto, porque só mama no peito", diz Roseli.
Os outros filhos estão matriculados em escola pública, próxima da favela do Jaguaré. ``Eles têm que tomar um ônibus, mas ganham merenda", afirma a mãe.
Sua rotina no Tendal é acordar cedo, por volta das 6h, e ir direto para a fila nos tanques de lavar roupa. São três tanques para 150 pessoas. ``Mais tarde a água fica fraca e não dá para usar", afirma.
Outro problema comum no Tendal são os esgotos entupidos. Há dois banheiros e dois chuveiros para todos os desabrigados. Como todos os outros moradores, a família Santos construiu seu ``quarto e cozinha" com as tábuas do antigo barraco no Jaguaré.
Os corredores são cortados por varais com roupas penduradas e cheios de crianças de todas as idades perambulando.
Mas o abrigo tem suas vantagens. ``Não moro perto de bandido nem preciso pagar a água e a luz", afirma o vendedor.
Eles já tentaram procurar um barraco para comprar com os R$ 1.700 oferecidos pela Sehab. Mas disseram não encontrar nada mais barato do que R$ 3.000. ``Se me derem dinheiro para comprar um barraco, vou para qualquer lugar", diz Santos.

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