São Paulo, segunda-feira, 7 de agosto de 1995
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Estava escrito Corinthians nas estrelas

ALBERTO HELENA JR.
ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO PRETO

Foi como atravessar a linha do Equador, em 35 minutos: saio de São Paulo, sob um frio de 10 graus e um céu de chumbo, para descer numa Ribeirão iluminada, raiando os 30 graus. Na bagagem, a expectativa de uma final histórica, eletrizante, inesquecível.
Enquanto o sol luzia sobre o estádio, no gramado baixou um tédio plúmbeo. A bola, branquinha ao ser tocada pela primeira vez, já aos 15 minutos de jogo estava cinzenta de ressentimento pelos maus tratos sofridos. E saiu de campo, no intervalo, cheia de equimoses roxas.
Foram faltas sobre faltas, grotescas e corriqueiras. Um festival de passes errados, dribles desajeitados, chutes pra fora, balões de cá e de lá.
Ah, sim, umas duas ou três vezes, se tanto, o Palmeiras chegou à área corintiana e vice-versa. Inutilmente.
Claro que essa atmosfera abúlica serve mais ao Corinthians do que ao Palmeiras. Mas desserve à vibrante torcida que lotou o estádio e, sobretudo, ao futebol.
Por isso mesmo o Palmeiras voltou para o segundo tempo disposto a decidir essa questão. Com Nílson no lugar de Alex Alves, partiu pra cima do Corinthians e acuou o adversário o tempo suficiente para que o novo avante abrisse o marcador.
Mal houve tempo, porém, para que as celebrações se cristalizassem, pois Marcelinho meteu-se pela intermediária inimiga, girou pra cá, pra lá, e, pimba!, conseguiu o que queria: falta de Mancuso, pertinho da meia-lua. Gol de Marcelinho, claro, nítido, indefensável, uma cobrança com régua e compasso, como diriam os antigos.
Daí em diante, apesar das entradas de Vítor, Elivélton, Tupã, Válber e Flávio, o jogo se arrastou até a prorrogação.
Uma prorrogação que valeu pelos noventa minutos de jogo, mais que isso: por um campeonato inteiro. A começar por duas estocadas de Viola pela esquerda que quase definem o título, terminando a primeira fase com uma série de três escanteios seguidos de uma cabeçada quase fatal do mesmo Viola. Nos 15 minutos finais, o Palmeiras foi buscar as suas últimas reservas, quase todas esgotadas na histórica noite de quarta-feira contra o Grêmio. Quase chegou lá, com Rivaldo, puxado dentro da área, o que seria pênalti, mas acabou não sendo.
O fato é que estava escrito Corinthians nas estrelas, e, quando a noite fechou sobre o estádio, Elivélton acertou a bomba mortífera no gol de Velloso.
Ganhou o melhor? Não sei. Acho que ganhou aquele que esteve desde o início do torneio mais determinado e equilibrado para chegar à conquista histórica. O que menos se desgastou.
Mas ganhou, sobretudo, aquele que tem como força extra, uma força quase esotérica, a Fiel.

Os heróis do jogo: Célio Silva, Zé Elias, esse magnífico Marcelinho-Corinthians e Elivélton. Mas, sobretudo, Eduardo Amorim, um paradigma do bom senso na condução do time e nas substituições que fez ao longo do certame.

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