São Paulo, segunda-feira, 7 de agosto de 1995
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Ribeirão Preto e Branco

JUCA KFOURI

Para não corintianos e não palmeirenses, os primeiros 45 minutos foram até chatos. Não parecia um jogo de futebol, mas de xadrez. Para corintianos e palmeirenses foi um filme de Alfred Hitchcock, de uma tensão absoluta. O Palmeiras queria mais fazer o gol. O Corinthians queria mais não sofrer o gol. Muller teve a melhor chance, mas, afinal, o que Muller veio fazer no Palmeiras?
O segundo tempo foi ainda mais dramático. A busca do gol continuava a pertencer a um lado só, até que o ex-corintiano Rivaldo enfiou com precisão para o também ex-corintiano Nílson pintar como grande carrasco. Foi o que bastou para o Corinthians, enfim, buscar o gol que, em seguida, veio pelos més -isso mesmo, mistura de pés e mãos- de Marcelinho, o algoz do Palmeiras, autor de cinco dos cinco gols alvinegros contra o alviverde no campeonato até aquele momento.
A cidade começou a mudar de nome, para Ribeirão Preto e Branco. Mas era hora de o Palmeiras voltar a partir para cima. Partiu. Até começar a prorrogação. Então, era hora de mostrar quem tinha mais coração. E até nisso dava empate, o empate que bastava ao Corinthians. Corinthians que jogou melhor, com Viola, ufa, mostrando que estava em campo. E Tupãzinho quase marca. E Viola quase marca.
Faltavam só 15 minutos. Quinze minutos que nem Andy Warhol jamais imaginou que fossem possíveis.
Foram. Até o pau da bandeira de escanteio jogou. Para o Corinthians. O Palmeiras se mandou inteiro como tinha mesmo de fazer. O Corinthians jamais ganhara do rival numa final de Campeonato Paulista -em 1954 foi campeão do 4º Centenário com um empate de 1 a 1. E nem precisava outra vez. Novamente o 1 a 1 bastava, mas, agora, seria pouco.
Não bastou e como não bastou! Nunca o hino foi tão brasileiro. Campeão dos campeões, 21 vezes -e que Silvinho salve o Corinthians. Campeão dos campeões fundamentalmente porque fez uma campanha irrepreensível a partir do momento em que o campeonato começou a valer, derrotando a Portuguesa e o União São João duas vezes, empatando e goleando o Santos. Campeão dos campeões porque sempre aparece algum deserdado para fazer a festa. Como em 1988, quando Viola executou o Guarani na Campinas de Carlos Gomes, Elivélton também tinha uma camisa por baixo para fazer o gol da vitória. Um gol maravilhosamente inesquecível. Afinal, Ribeirão Preto e Branco é a terra do Pinguim. E pinguim, desde sempre, é preto, é branco, é campeão.

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