São Paulo, segunda-feira, 7 de agosto de 1995
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Festival mostra programas internacionais

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há alguns anos o Rio Cine vem incursionando no terreno, pioneiro no Brasil, do festival de televisão. Em sua última edição, que se realizou entre 24 e 31 de julho último, no Rio de Janeiro, a ``Mostra e Fórum Internacionais" nos colocaram em contato com programas inteligentes, produzidos em países com os quais temos pouco contato televisivo.
O japonês Hideo Nakazawa, por exemplo, viajou 29 horas para falar sobre seu programa de quinze minutos, ``Dez Segundos Depois", produzido pela NHK. Trata-se de um trabalho de videoarte que se utiliza do sistema de alta definição digital para criar imagens intrigantes.
É uma ficção sobre um aparelho de televisão em uma sala de estar que, como um espelho mágico, revela imagens da mesma sala, dez segundos depois. Exibe um futuro trágico. Filmado em 35mm, o curta discute a incapacidade dos telespectadores em manipular as informações adiantadas pelo aparelho.
Este ano, o festival carioca dedicou sua sessão televisiva ao tema da TV pública e da função pública das TVs. Promoveu debates entre os dirigentes de nossas Fundações Padre Anchieta, Roquete Pinto, Roberto Marinho, Unesco. Trouxe programas e profissionais ligados ao Input (Festival Internacional de Televisão Pública).
O ``Workshop Latino" exibiu cerca de 35 programas do Brasil, Uruguai, México, Paraguai, Venezuela, Chile, Cuba e Argentina. Cerca de quinze desses programas serão selecionados para o Input-96 no México -o primeiro a se realizar na América Latina.
E o ``Mini-Input" mostrou uma seleção do festival deste ano, feita pela curadora do evento Tetê Morais. São produções de países como a Finlândia, a Bélgica, a Venezuela ou o Japão. Juntas, essas duas mostras trouxeram ao Brasil cerca de 40 profissionais estrangeiros de televisão.
O festival é também espaço para novos projetos de videomakers independentes. Para fazer frente à concorrência das emissoras privadas, as TVs públicas européias cada vez mais recorrem à co-produções.
No Rio, estiveram Eckairstein, diretor de novos projetos da TV franco-alemã Arte, e Robbin Gutch, representante do Channel 4 da Inglaterra, interessado em produzir uma série latino-americana.

Brasileiros
Programas brasileiros têm encontrado muito boa receptividade no Input. Talvez a ironia mordaz com que brasileiros são capazes de encarar suas próprias mazelas desconcerte os estrangeiros.
Jorge Furtado, Sérgio Goldemberg, Carlos Nader e Roberto Torero são alguns dos realizadores brasileiros que fizeram escola no Input.
Tanta repercussão externa merece mais elaboração interna. Enrique Nicanor, vice-presidente do Input, afirma que as democracias são falsas se não permitirem algum controle dos cidadãos -não dos governos, nem dos grupos privados- sobre os meios de comunicação.
O Rio Cine se ofereceu para sediar um Input. Uma mostra com trabalhos criativos, de outra forma inacessíveis ao público brasileiro, pode provocar alguma ebulição.

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