São Paulo, segunda-feira, 7 de agosto de 1995
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Chutebol

Até o final da década de 50, quando a arte futebolística estava a serviço exclusivo do deleite popular e seus craques eram mais amantes do ofício do que profissionais, a violência se manifestava apenas em eventos isolados.
Durante toda a década de 60, o destaque do Brasil no cenário mundial e os fortes regionalismos na América Latina trouxeram para os campos de futebol métodos mais rigorosos de marcação dos atacantes. ``Marcação homem a homem", ``ferrolho", ``não dar folga" são termos da época que traduzem com clareza o novo padrão de competitividade. Naqueles anos, ocorreram as primeiras brigas entre grandes grupos de jogadores durante a partida.
As décadas de 70 e 80 registram o surgimento das torcidas organizadas. Tornaram-se então frequentes as brigas entre elas, por vezes resultando em mortes.
O que lamentavelmente acontece nos anos 90, especialmente no Brasil, é um recrudescimento da violência. Um dia ela foi episódica no futebol-arte; depois passou a fazer parte do comportamento dos jogadores e, por fim, contaminou a torcida. Agora, porém, ela se generaliza de maneira inquietante.
Os confrontos explodem entre torcedores e jogadores, torcedores e policiais, e até mesmo entre jogadores e policiais, como se observou no final do campeonato paulista. A truculência atinge a todos, arrastando consigo os derradeiros vestígios da alegria descompromissada que marcara o futebol em suas origens.
Mesmo após a vitória brasileira na Copa do Mundo dos EUA, persiste o sentimento de que a profissionalização do futebol tem sido proporcional à sua desumanização.

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