São Paulo, terça-feira, 8 de agosto de 1995
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A colonização da rede

MARIA ERCILIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Acaba de sair um software, o Pensee, que ``traduz" páginas de Web do inglês para o japonês. É de se imaginar que não seja de uma eficiência absoluta, já que nunca um software de tradução funcionou decentemente.
Mas o programa foi criado para atender uma demanda: mais e mais japoneses se conectam à Internet e vão querer ter o que ver na rede.
Só que um software de tradução resolve só metade do problema. Eventualmente o japonês vai querer informações sobre o país dele, não só material em inglês traduzido para a sua língua.
Por exemplo, um brasileiro recém-chegado à Internet.
Se fosse hoje, ele não teria praticamente o que ver em português ou sobre o Brasil. Existem alguns centros universitários com boas informações na rede, mais alguma coisa aqui e ali. E acabou. O resto é para inglês ver mesmo -principalmente produzido por americanos.
Se for daqui a um ano, temos duas hipóteses. Ou ele acha coisas incríveis -festivais de cinema, arquivos de música, páginas ``independentes", catálogos de compras. Ou encontra alguns anúncios de empresas brasileiras, nada mais. E vai navegar em águas americanas, onde, ou fala inglês, ou bóia.
Vai depender do que aparecer na Internet brasileira. Casos como o do Recife (http://www.emprel.gov.br) são animadores. Já existe há algum tempo um gopher da prefeitura e um serviço chamado Rede Cidadão, uma freenet (rede de acesso gratuito) com pesquisas de preços, programas da prefeitura e fóruns de mensagens. Aliás, o prefeito de Recife foi o primeiro do Brasil a ter endereço eletrônico.
O site do Recife é criativo e útil. Inaugurou sua Web em julho e há planos de colocar projetos culturais na rede em breve.
São idéias como essa que podem colonizar a Internet. O uso da rede no Brasil deveria incluir um projeto de ``ocupação" cultural. Ninguém perde com isso. Por mais caros que os serviços ligados à rede sejam num primeiro momento, ainda é mais fácil e barato ``publicar" na Internet que em qualquer outra mídia. Além disso, enquanto for novidade, ainda tem a publicidade adicional só por ``estar" na Internet.
Evita-se aquele ``efeito Hollywood". Já basta o cinema mais próximo da sua casa só ter filme americano.
O comércio e a comunicação eletrônica são um fato, quer se goste da idéia ou não. Agora há uma janela de oportunidade para criar uma indústria de informação de qualidade no Brasil. Só não vai acontecer se as pessoas acreditarem que precisam pagar uma fortuna pelo acesso à Internet, porque está na moda, e acharem que a rede é apenas um meio de acessar o Museu do Louvre e a Nasa pelo computador.
As palavras-chave são conteúdo e compatibilidade. Quem não tiver conteúdo para oferecer, vai ser somente consumidor. Quanto à compatibilidade, pode apostar que surgirá em breve todo um mercado de tradução de material disponível na Internet.
Quem tiver uma página em português na rede vai querer ter uma em inglês, já que ela pode ser vista por pessoas no mundo inteiro. E vice-versa. Material em outras línguas poderá ser traduzido para o português.
Existe por exemplo um serviço de correio eletrônico na Internet, que por uma taxa traduz uma mensagem em qualquer outra língua e envia ao destinatário.
Melhor a emenda Continua a guerra de emendas nos EUA, só que agora começam a aparecer resultados mais favoráveis. Sexta foi aprovada no Congresso uma emenda que proíbe o FCC (Federal Communications Commission) de interferir na rede. Ganhou por 420 a 4. O efeito imediato é evitar que os serviços online sejam criminalizados por materiais ``indecentes" transmitidos por seus clientes.
Só o humor constrói
Se nada salvar o mundo, ainda haverá senso de humor. Um Robert Carr escreveu um programinha chamado HexOn Exon, que faz o seguinte: toda vez que encontra uma palava ``indecente", substitui por um nome de senador americano. Ótimo para codificar mensagens ``censuráveis".

O e-mail de NetVox é netfolha@sol.uniemp.br

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