São Paulo, sábado, 12 de agosto de 1995
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Brasileiro vai à Justiça contra governo francês

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de ser preso na França sob acusação de tráfico internacional de drogas, ficar 19 meses na cadeia e ser absolvido em segundo julgamento na Justiça francesa, um brasileiro quer acionar o Estado francês e pedir indenização por prejuízos financeiros e morais.
Adicerlau Adelino Pacífico, 38, está livre há um mês no Rio. Ele também pretende acionar a companhia para a qual trabalhava, a Transroll Navegação S.A., para receber direitos trabalhistas referentes ao período em que ficou preso.
Pacífico saiu da prisão com problemas cardíacos e de pressão alta. Daqui a um mês, estará desempregado: já recebeu aviso prévio da companhia de navegação.
Ele era enfermeiro no navio ``Intrépido", da Transroll, que partiu em outubro de 93 do Rio rumo a Lisboa (Portugal). Durante a viagem, o destino foi alterado para Rouen (norte da França).
Em novembro de 93, em Rouen, a polícia francesa descobriu 74,112 kg de cocaína nas tubulações do navio.
Pacífico e outro brasileiro foram presos como suspeitos. O caso foi revelado pela Folha em abril deste ano. O outro brasileiro, que pediu para ser identificado como M., confessou à Justiça francesa ter recebido dinheiro de um traficante brasileiro para transportar a droga. Pacífico diz que jamais confessou o crime. Mas assinou depoimentos em francês que o incriminavam.
Eles foram condenados a seis anos de prisão em abril deste ano. Pacífico recorreu e foi absolvido.
A defesa apontou fragilidades na acusação. Questionou, por exemplo, o fato de alguns de seus depoimentos terem sido traduzidos pelo comandante do navio, que não é tradutor juramentado (habilitado judicialmente para traduções).
``Nos primeiros depoimentos, eu falava em português, o comandante reproduzia em inglês e um policial passava para o francês."
Outro indício de acusação que também foi desconsiderado: um papel achado no bolso de Pacífico com um número de telefone que a polícia suspeitou ser do traficante que contratou M.
O advogado de Pacífico em Rouen, Claude Rodriguez, vai acionar a Comissão de Indenização contra Detenções Não-Fundadas. Enquanto esteve preso, Pacífico não recebeu salário.
Pacífico entrou há oito anos para a Marinha Mercante e disse que tinha um contrato de prestação de serviços com a Transroll. Segundo ele, na época do embarque seu salário era de US$ 1,5 mil por mês.

Outro lado
O chefe da Divisão Consular do Ministério das Relações Exteriores, Flávio Bonzanini, diz que ``o governo brasileiro fez o que pôde por Pacífico". ``Mandamos visita na prisão, trocamos tradutor, pagamos passagem. Estamos acompanhando a chegada dos documentos, mostrando a inocência dele."
O diretor-administrativo da Transroll, Carlos Augusto Carvalho, confirma que a empresa suspendeu o contrato de Pacífico durante o período em que ele ficou preso e diz que pagará tudo que Pacífico tem direito.
``Ele está demitido sem justa causa porque já tivemos apreensão de drogas duas outras vezes neste navio. Mas o empregador tem direito de demitir."

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