São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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Malan proíbe assessor de Dallari de ir ao ministério

LILIANA LAVORATTI; ELVIRA LOBATO; BRUNO BLECHER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ELVIRA LOBATO
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, proibiu Roberto Melo, assessor informal de José Milton Dallari (secretário de Acompanhamento Econômico), de usar instalações do ministério em São Paulo.
A informação foi passada ontem à Folha pela assessoria do ministro, que confirmou que Melo não tem nenhum vínculo formal com o governo federal. Apesar disso, Melo entregou a interlocutores cartão de visita em que se apresenta como ``assessor técnico" do ministério (veja a reprodução abaixo).
Ele vinha dando consultoria informal a Dallari na área de planos de saúde, conforme informação da assessoria do ministro.
Médico aposentado pela Cesp (Companhia Energética de São Paulo), ele tinha livre trânsito nas instalações do Ministério da Fazenda em São Paulo. É conhecido no Estado como principal assessor de Dallari, que também é funcionário da Cesp.
Apesar de trabalhar com Dallari, Melo não recebe nada do governo pelos serviços prestados ao amigo. Mesmo assim, ele participava de todas as reuniões realizadas em São Paulo com empresários de diversos setores.
Por isso, a área de fiscalização da Receita Federal levantou suspeitas sobre o tipo de consultoria informal que Melo estaria dando a Dallari. Não se encontrou, porém, nenhuma relação dele com a Decisão, a consultoria de Dallari.
``Não posso acreditar que o Melo não seja membro do governo. É uma informação tão surpreendente que me recuso a acreditar", disse à Folha o empresário Omilton Visconde, presidente da indústria de medicamentos Biosintética.
Melo não disfarça sua presença. Manda servir água e café aos jornalistas, dá início às reuniões com empresários quando Dallari está atrasado e é apontado no meio empresarial como um especialista nas negociações de planos de saúde.
No dia 4 de março do ano passado, três dias após a implantação da URV, a indústria farmacêutica reuniu-se com Dallari no 19º andar do edifício do Ministério da Fazenda, em São Paulo, para discutir a conversão dos preços.
Roberto Melo sentou-se à cabeceira da mesa, ao lado de Dallari, onde posou sorridente para fotógrafos e câmaras de TV, que documentaram o encontro.
Visconde participou da reunião como presidente do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas. ``Para mim, tratava-se de um assessor de Dallari. Ele acompanhava as discussões, mas nunca o vi tomando decisões em nome do governo", relata o empresário.
José Eduardo Bandeira Mello, presidente da Abifarma (Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica), disse que de março a junho deste ano as indústrias de medicamentos tiveram cinco reuniões com Dallari para tratar de reajuste de 12,3% nos preços, o primeiro depois da implantação do real.
``O Roberto Melo participou de pelo menos duas reuniões, mas nunca negociamos diretamente com ele. Acho que a área dele é mais a dos hospitais e convênios médicos", afirma o presidente da Abifarma.
Várias fotos feitas pela Folha em maio do ano passado, mostram que Roberto Melo esteve presente na mesa de negociação sobre aluguéis entre inquilinos e proprietários de imóveis, realizados no mesmo 19º andar do Ministério da Fazenda, em São Paulo.
As fotos mostram Melo e Dallari fazendo anotações. José Roberto Graiche, presidente da Associação dos administradores de Bens Imóveis e Condomínios, participou da reunião e reage com espanto à informação de que o homem que assessorava Dallari não faz parte do governo.
``O Melo não é funcionário da Fazenda?", perguntou.
Em seguida, disse, em tom de brincadeira, que o médico não pode ter tirado proveito das informações colhidas no encontro: ``foi uma reunião infrutífera", afirmou Graiche.

Colaborou BRUNO BLECHER, editor do Agrofolha

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