São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995 |
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BC pára de divulgar valor dos débitos
FERNANDO RODRIGUES
Na década de 80 e até o ano passado, o Banco Central costumava publicar o boletim trimestral ``Brasil Programa Econômico". Alvo de críticas por ser uma publicação cifrada e sempre atrasada, o ``Brasil Programa Econômico" era a única referência oficial possível sobre dívida externa. Era comum ver cópias da publicação nas mesas de banqueiros em Nova York, Tóquio e São Paulo. Quando a Folha buscava dados para esta reportagem publicada hoje em Finanças, descobriu que o BC deixou de publicar o ``Brasil Programa Econômico". O curioso foi a razão. A publicação de um boletim consolidando os dados da economia brasileira e da dívida externa era uma exigência dos banqueiros externos e do Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo cumpria à risca. Como o governo renegociou sua dívida e não fez um novo acordo com o FMI, a exigência deixou de existir. O BC não teve dúvidas: interrompeu a publicação do ``Brasil Programa Econômico". Para se obter dados sobre dívida externa, qualquer brasileiro ou estrangeiro hoje depende da boa vontade do Banco Central. Os números aparecem, esparsamente, no boletim que o BC publica com notícias gerais. Também é possível inferir os valores da dívida lendo os resultados das despesas do país, divulgados mensalmente pelo Tesouro Nacional. Em fevereiro deste ano, quando o México entrou em crise e ficou sem caixa, o BC resolveu divulgar o valor da dívida. Em fevereiro, o único valor conhecido era de oito meses atrás, de junho de 94. O Banco Central então divulgou o valor de dezembro do ano passado. Desde então, não se sabe qual foi a evolução exata da dívida brasileira. A Folha buscou números em documentos oficiais e estimou conservadoramente a dívida atual em US$ 151,7 bilhões. Vários banqueiros que acompanham o assunto de perto estimam que o valor de hoje é, pelo menos, US$ 155 bilhões. Uma das maiores discussões em pauta nos organismos internacionais de crédito é a falta de números confiáveis sobre as economias do Terceiro Mundo. No caso do México, a surpresa do ocorrido deu-se, em parte, por causa da falta de informações. O Banco Mundial pressiona todos os seus associados -inclusive o Brasil- a divulgar com maior regularidade e precisão as suas contas. A Folha procurou o diretor de Assuntos Internacionais do BC, Gustavo Franco, durante todos os dias da semana passada para que ele comentasse o aumento da dívida externa. Suas secretárias anotaram os recados, mas Franco não respondeu aos telefonemas. História Mas não é de hoje que as autoridades brasileiras tratam com descaso os números das contas externas do país. Durante o governo de Fernando Collor de Mello (90-92) houve uma sucessão de fatos embaraçosos para o país. Numa reunião com banqueiros, um negociador da dívida brasileira foi indagado sobre o valor exato dos débitos do país. Tirou do bolso um guardanapo de papel e leu, em voz alta, os números ali anotados. Era o valor mais atualizado que dispunha da dívida. Em outra ocasião, ainda durante o governo Collor, um representante dos bancos credores alertou funcionários do BC sobre incorreções nos números brasileiros. Um funcionário do BC insistia com o credor que o valor era correto. Até que o estrangeiro disse: ``Não só está errado como o Brasil paga duas vezes a mesma despesa e isso custa quase US$ 100 milhões por ano ao país". Apavorados, os funcionários do BC concluíram que havia mesmo o erro. E disseram: ``Imagine se o Ibrahim sabe disso". Ibrahim, no caso, era o Ibrahim Eris, o então presidente do Banco Central. O erro acabou corrigido. Mas nunca foi noticiado na época. Texto Anterior: Bancos querem uso de reservas Próximo Texto: Mais um déficit comercial Índice |
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