São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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O certo e o errado no governo FHC

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

O segundo semestre promete emoções fortes no Congresso, com a votação em segundo turno de diversas emendas à Constituição. Pasmem os leitores, esse é o melhor aspecto do governo FHC, pois, de fato, havia muitos pontos na Constituição que precisavam ser melhorados.
Mas há coisas bastante erradas na política econômica em curso. Os erros mais graves: taxa de câmbio muito defasada, que precisará ser desvalorizada; taxa de juros de arrasar quarteirão, que ainda levará muitas empresas à concordata e à falência; e falta de uma política agrícola, o que deve reduzir a safra do próximo ano.
O governo colocou-se em um beco sem saída ao permitir um grande atraso na taxa de câmbio em 1994. No presente, para acumular mais reservas (para que tanto?), pratica uma política de juros interna que atrai fluxos especulativos de capital apátrida.
Evidentemente, isso não é uma situação de equilíbrio. Ninguém no mundo das finanças, nacional ou internacional, se deixa levar por esse nhenhenhém. O que vale hoje é que as reservas estão altas. Mas, quando caírem, pode ser um Deus nos acuda.
Por que tal combinação de política é errada? Primeiro, porque acarreta uma enorme concentração de renda, transferindo recursos dos que pagam impostos aos que vivem de aplicações financeiras.
Segundo, porque essa política não tem mais função. Já desaqueceu a economia e está provocando desemprego na indústria. A próxima lufada será provocar desemprego no comércio.
Terceiro, porque não se percebe nenhuma intenção séria no governo de mudar as prioridades congeladas no Orçamento federal feito em algum tempo no passado (e por gente nem tão bem-intencionada assim).
Na campanha eleitoral de 1994, muitas promessas foram feitas. FHC adotou como símbolo uma mão aberta com cinco dedos. Pois o símbolo que parece preferir no presente é o da mão fechada, como em uma figa.
Quem se esquece que a mão fechada foi o símbolo dos ``panteras negras" e diversos grupos de luta armada? A mão fechada erguida continua sendo um símbolo universal de convite à luta. Qual será a mensagem hoje?
Os franceses dizem que o estilo é o homem. O estilo dos primeiros seis meses do governo FHC foi o de muita conversa, troca de favores e loteamento de cargos em empresas federais.
Tal estilo tem sido descrito como o favorecido por um homem que prefere enfatizar processos de construção de consensos em oposição ao confronto. Enquanto declaração de intenção é aceitável.
O problema é que o tal processo visa a desconstrução do Estado. Também nada a se opor se isso estivesse sendo feito para valer. Mas nem isso. O que há é muito jogo de cena e muito marketing. Os resultados são invisíveis até o presente.
Bom, como Deus continua sendo brasileiro (embora haja indícios de que ele possa ter mudado para os Estados Unidos), a geléia real da política brasileira continuará a mesma geléia insossa.
PS: Os insistentes e virulentos ataques do PFL ao ministro Serra indicam que este deve estar fazendo alguma coisa certa! Vamos esperar para ver o quê, pois até agora está obscuro.

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