São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 1995
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Educador espanhol diz que mudar só o currículo não melhora o ensino

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mudar só o currículo, sem uma política de médio e longo prazos de acompanhamento do trabalho dos professores não traz melhorias qualitativas para a educação.
A opinião é do principal responsável pela reforma no ensino da Espanha -iniciada em 92 e atualmente em andamento-, César Coll Salvador, 45.
Professor de psicologia da educação na Universidade de Barcelona, Coll está no Brasil para participar, esta semana, do seminário internacional ``O Construtivismo no Currículo Escolar", promovido pela Escola da Vila, de São Paulo.
Especialista em construtivismo -uma teoria sobre aprendizagem que, desde a década passada, está transformando as práticas pedagógicas no mundo-, Coll também assessora o MEC (Ministério da Educação) em uma reformulação dos parâmetros curriculares do ensino de 1º grau do Brasil.
A seguir, trechos da entrevista.

Folha - Que tipo de assessoria o sr. está dando ao MEC?
Coll - O MEC, aproveitando que eu viria para o seminário, pediu que eu lhes desse minha opinião sobre o seu trabalho de elaboração de parâmetros curriculares.
Folha - E como o sr. vê o projeto do MEC?
Coll - O grupo brasileiro é interessante para mim por duas razões. Uma porque não trabalha um currículo, como o da reforma na Espanha. Lá fizemos um currículo nacional, prescritivo e obrigatório, que estabelece os mínimos a partir dos quais as comunidades acrescentam o que lhes é próprio. No caso do brasileiro são parâmetros para os currículos nacionais. Não há obrigatoriedade de cumpri-los. É uma referência que o MEC propõe. Quem trabalha o currículo são os professores e ou eles o aceitam e interiorizam, ou de pouco adianta a imposição.
A segunda questão pela qual a reforma do MEC me parece distinta é que escolheram uma via que não é habitual. A proposta curricular está sendo feita por professores com experiência em aula, não unicamente especialistas universitários, acadêmicos.
Folha - O construtivismo não é uma teoria complexa para ser ensinada a professores com baixa formação?
Coll - O problema não é ensinar aos professores uma teoria psicológica ou pedagógica. O construtivismo não é deixar de ensinar de uma forma e passar a ensinar de outra. É dizer ``vamos ver o que podemos fazer para que os alunos aprendam".
Folha - Como mudar a prática dos professores?
Coll - Eu creio que um professor, na ótica construtivista, é capaz de analisar o que faz, refletir sobre sua própria ação e explorar novas maneiras de ajudar o aluno a construir seus conhecimentos.
Folha - Sem um trabalho de formação de professores é possível isso acontecer?
Coll - O currículo é só um referencial, uma condição necessária, mas não suficiente para a mudança. Uma vez que se tenha um currículo bem elaborado, é preciso produzir uma série de políticas de desenvolvimento curricular: elaboração de material didático, revisão do funcionamento das escolas, da política das condições trabalhistas e econômicas do professorado.

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