São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 1995
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Exageros no tratamento do câncer da próstata

AFIZ SADÍ

Volto a me manifestar neste poderoso jornal contra os exageros dos especialistas nas indicações cirúrgicas radicais para o câncer da próstata. Ele é o tumor maligno mais frequente do homem; é a terceira causa de morte nos EUA, onde surgem, por ano, mais de 150 mil casos novos, com 35 mil óbitos.
Em São Paulo há 22 casos por 100 mil habitantes. Após os 60 anos de idade, surgem cem casos para cada 100 mil habitantes. Cerca de 80% dos homens acima dos 50 anos têm tumor prostático, e, desses, 60% são benignos, 20% malignos e em 20% a próstata se atrofia senilmente.
Nas autópsias, a incidência do câncer é similar em todo mundo e duplica a cada década da vida; vai de 10% aos 50 anos a 70% aos 80 anos. Há 10% de possibilidades de o homem apresentar câncer clínico durante sua vida.
O diagnóstico precoce é imperativo, mas impossível, mesmo com os meios propedêuticos existentes, porque dois terços dos pacientes com o câncer apresentam-no extra-próstata. Quase 90% dos que morrem têm metástases.
Na realidade, esse câncer surge por volta dos 35 anos de idade do homem, no período de maior atividade androgênica. Essa é uma das razões de não se abusar do hormônio masculino sem um controle do urologista.
Alguns cânceres são agressivos; outros, indolentes, não perturbam a vida do portador. Aqueles localizados na próstata dos idosos e bem diferenciados não devem ser tratados, muito menos manipulados; a sobrevida aqui pode ser maior que dez anos (estádio B-localizado) e constituem 58% deles clinicamente; 53% são tratados com radioterapia e 67% prostatectomizados, porém a resposta clínica não difere de um método para outro.
Por isso, a cirurgia de câncer da próstata não representa fator importante no tratamento. Ao contrário, o trauma cirúrgico é deletério, pode provocar complicações urinárias, não aumenta a sobrevida, desencadeia metástases e piora a qualidade de vida do paciente.
O máximo que se deve fazer é a resseção endoscópica, quando indicada, no sentido desobstrutivo. Sempre será preferível o tratamento clínico e/ou radioterápico para câncer da próstata, porque a sobrevida é bem maior e o paciente se livra das complicações cirúrgicas.
Na verdade, não há cura para o câncer da próstata com a cirurgia, pois quando diagnosticado, sempre há metástases, ainda que microscópicas.
Acrescente-se que após os 70 anos não há bom senso em se indicar uma cirurgia radical, devendo ser proscrita definitivamente. O diagnóstico se faz pelo toque retal, dosagem do PSA e a biópsia.
Cerca de 25% dos pacientes com tumor benigno têm PSA elevado entre 4 e 12 ng, mas 30% dos que têm câncer localizado têm PSA normal. Infecções, congestões, edemas, resseções da glândula elevam o PSA em até 50 vezes.
O PSA falso positivo ou negativo entra numa proporção de 30% dos casos. O melhor método é o toque retal, que deve ser feito uma vez por ano, com PSA, após os 50 anos de idade.
A radioterapia e o seguimento clínico oferecem 80% de sobrevida entre 10 e 15 anos. Na cirurgia há 30% de incontinência urinária, 40% de incontinência de esforço, 60% a 90% de impotência sexual, 20% de estenose da uretra e qualidade de vida inferior.
O bloqueio endrogênico isolado ou associado funciona muito bem. O laser e a criocirurgia não têm indicação e são experimentais. Geralmente, os tumores apresentam metástases ganglionares em 80% deles quando operados radicalmente e se desenvolvem em menos de cinco anos.
Acredito, hoje, após estudar o câncer da próstata nesses 40 anos de professor de urologia, que apenas as manifestações ou manipulações genéticas possam modificar o diagnóstico e o tratamento desse tipo de tumor.

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