São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 1995
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Mulher ganha 76% do que é pago a um homem

ALESSANDRA BLANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

As mulheres brasileiras ganham em média 76% do valor do salário dos homens, segundo um levantamento que integra o Relatório do Desenvolvimento Humano de 1995, divulgado ontem pela ONU (Organização das Nações Unidas).
Nos EUA, os salários das mulheres equivalem a 75% dos salários dos homens. Já na Tanzânia, as mulheres recebem em média 92% dos salários masculinos.
Segundo a ONU, as mulheres representam hoje 70% do total de pessoas vivendo em situação de pobreza absoluta no mundo.
A desigualdade entre os sexos não teria muita relação com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), também divulgado ontem pela ONU, que mede expectativa de vida, alfabetização, escolarização e renda per capita (leia texto ao lado).
Os EUA, por exemplo, estão em 2º lugar no IDH, mas ficam em 5º na classificação de igualdade entre mulheres e homens.
Em todos os países, as mulheres têm uma carga horária diária cerca de 13% superior a dos homens.
A situação piora nas áreas rurais, onde o dia de trabalho é 20% maior do que o das áreas urbanas. As mulheres das áreas rurais gastam, em média, 20% mais tempo do que os homens no trabalho.
A 53ª posição do Brasil no ranking de igualdades entre homens e mulheres pode ser um problema regional, segundo pesquisadoras e mulheres brasileiras.
O país é internacionalmente conhecido por idéias avançadas que apresentou nos últimos congressos mundiais. Há dez anos, inovou criando as Delegacias da Mulher.
Segundo a deputada federal Marta Suplicy (PT-SP), a Constituição brasileira está entre as mais modernas do mundo. O problema, segundo ela, é que nem todas as conquistas são aplicadas no país.
Para a socióloga Cristina Bruschini, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, algumas regiões, como Norte e Nordeste, estão muito atrasadas em relação à igualdade entre homem e mulher e acabam afetando ainda mais o resultado total do país.
``Ainda não conheço o teor do relatório, mas acredito que países como Panamá, Costa Rica e Venezuela estejam melhores posicionados que o Brasil em igualdade. Até por serem menores, ficam mais homogêneos", disse Cristina.
Segundo a psicóloga Carmen Barroso, diretora do programa de populações da Fundação MacArthur (EUA), as ocupações das mulheres hoje são pior remuneradas que as dos homens.
``Nos EUA, descobriu-se que as mulheres que cuidam de bebês ganham bem menos do que os homens que cuidam dos animais no zoológico. Isso não faz sentido", disse Carmen.
Segundo ela, há algum tempo já se tem conhecimento do que é chamado de ``feminização" da pobreza. As taxas crescentes de famílias chefiadas por mulheres têm contribuído para isso.
``Houve um aumento nas taxas de separação e divórcio. Como as mulheres têm maior expectativa de vida do que os homens, acabam ficando sozinhas com os filhos, ganham menos e vivem em estado de pobreza", afirmou Cristina.

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