São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 1995
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Pastor Jeff Smith vem pregar cozinha informal

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O canal de TV por assinatura GNT tem um surpreendente campeão de audiência: o pastor metodista Jeff Smith, mais conhecido por seu programa culinário ``Frugal Gourmet", também título do livro que ele lança amanhã, às 19h30, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Smith vem a São Paulo no domingo e deixa o Brasil na segunda-feira.
Diariamente, às 11h30, esse senhor de barba e cabelos grisalhos, 56 anos, ocupa 30 minutos de TV preparando pratos mais que variados enquanto ri e filosofa.
O programa é uma certa pantomima, onde receitas desfilam em ordem incerta, sem atenção a detalhes como quantidades e tempos de cozimento. Os pratos já ficam prontos, tudo gravado em plano-sequência sem cortes, nem para ocultar os erros frequentes.
O público não liga. O ``Frugal Gourmet" retrata o cozinheiro caseiro, aquele que erra, mas faz. E como recheia o programa com falas moralistas e fraternais, pode desapontar cozinheiros, mas encanta o público comum. Seu programa é transmitido por 225 canais nos EUA.
As receitas (e boas dicas) só aparecem com precisão nos livros, que, em nove títulos publicados, somam 4,5 milhões de exemplares vendidos. Não só pela estratégia de esconder o leite (as receitas): seu magnetismo e simpatia certamente são decisivos às vendas.

Folha - Ser um pastor metodista influencia sua atividade como "showman" gastronômico?
Smith - Sem dúvida fui influenciado pelos meus muitos anos de púlpito e de professor de religião no colégio e na universidade. No ensino e na pregação eu aprendi muito em termos de comunicação. Acho que isso aparece nos meus programas de TV.
Folha - De onde vem o título "Frugal Gourmet"?
Smith - "Frugal Gourmet" é obviamente um axioma e foi desenvolvido pela minha mulher. Estávamos na cama, tomando xerez. Finalmente ela se virou e disse: "Um brinde para o frugal gourmet!". Eu percebi na hora que era o título perfeito.
Folha - Em seus programas o senhor não mostra precisamente como fazer os pratos, com tempos e quantidades exatas. Por quê?
Smith - Eu geralmente dou pouca atenção a ingredientes e medidas exatas porque o que quero é que as pessoas relaxem e aprendam a natureza de um prato, mais que a exata quantidade de ingredientes.
Cozinhar bem não consiste em saber medidas, mas em ter um bom paladar. Creio que, à medida que você se torna um cozinheiro melhor, fica mais interessado no estilo de um prato do que nas medidas exatas.
Folha - Que tipo de comida atrai hoje o público americano?
Smith - Os americanos estão muito interessados em cozinhas internacionais. A comida tailandesa é muito popular, assim como a coreana e a vietnamita -em suma, a comida dos povos com os quais tivemos guerra.
Cada vez que vamos para a guerra terminamos por trazer maravilhosas noivas dessas nações e com elas o cozinheiro familiar e até as próprias famílias. A comida que nós celebramos nos EUA sempre foi a única coisa boa da guerra.
Folha - O gosto dos americanos para a comida, que é frequentemente criticado, tem se modificado?
Smith - É claro que nossos gostos mudam, como devem mudar no Brasil também. Mudam à medida que nós conhecemos mais e mais culturas e nos interessamos por elas. A melhor maneira de aprendermos sobre uma cultura diferente é experimentar sua comida. Primeiro a comida, depois a arte e a história.
Folha - O senhor conhece alguma coisa sobre a cozinha brasileira?
Smith - Sim, sou fascinado pela cozinha brasileira. Eu aprecio uma boa feijoada, embora não seja possível encontrá-la aqui em Seattle. Estou ansioso para experimentá-la no Brasil. A mulher do meu ex-chef de cozinha é portuguesa e ela me ensinou um pouco sobre a influência portuguesa no Brasil. Meu atual chef, Timothy Peterson, tem estudado a respeito e estamos ambos vibrando por chegar aí e poder experimentar a comida brasileira em seu próprio território.

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