São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 1995
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ACM, mito ou blefe?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Informa Josias de Souza, cada dia melhor aliás, que o presidente Fernando Henrique Cardoso determinou que se atacasse o que considera ``mito ACM". Se for para valer, FHC vai descobrir que ACM não passa disso mesmo, um mito.
É só seguir o raciocínio lógico.
ACM é um ídolo popular? Na Bahia, e só na Bahia, sim. Mas, assim mesmo, seus candidatos perdem sucessivas eleições para a Prefeitura de Salvador que, como toda capital, é menos suscetível ao coronelismo do que os grotões de onde brotam seus votos.
ACM é um bom conselheiro? Se o fosse, os três presidentes mais recentes que apoiou (Figueiredo, Sarney e Collor) não teriam terminado suas gestões na mais completa desgraça aos olhos do público.
ACM manda na bancada do PFL? Falta uma prova. Afinal, ele ficou até o fim ao lado de Collor, seu filho fez até o discurso de defesa do então presidente no encaminhamento da votação (discurso, aliás, corajoso e bem-feito), e nem por isso a bancada baiana deixou de votar majoritariamente pelo impeachment.
Se nem a bancada baiana ele consegue dominar nos momentos críticos, imagine-se então o restante dos pefelistas, ligados a um punhado de outros caciques regionais.
ACM manda na TV Globo? Só quem acredita em Papai Noel pode achar que, em caso de confronto entre ACM e o governo, a Globo vai ficar com ACM e contra o governo, certo?
ACM é um auxiliar valioso? Alguém aí conhece uma única opinião interessante do senador sobre os grandes temas (reforma tributária, dívida interna ou externa, globalização, combate à inflação etc)? Ou conhece apenas intrigas, ironias, fofocas, bastidores?
Até em circuito fechado termina às vezes humilhado. Vide convenção do então PDS para escolher o candidato à eleição presidencial biônica de 85. ACM ficou com o coronel Mário Andreazza, que foi esmagado por Paulo Maluf.
Por tudo isso, tenho a leve suspeita de que, se algum presidente resolver peitar ACM, vai descobrir que, mais do que mito, é um blefe.

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