São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 1995
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Alguém mente

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Em uma negociação política, palavra é como rocha ladeira abaixo; depois de solta, não tem mais volta. Ou melhor, não tinha.
Na Brasília dos últimos dias a palavra empenhada passou a valer tanto quanto uma ação ordinária do Banco Econômico. Menos que a reputação empresarial de Ângelo Calmon de Sá.
Alguém está mentindo na capital, eis o que se pretende demonstrar. Não se está tratando aqui de personagens secundários. Bem ao contrário.
Nossos protagonistas são o presidente da República, o presidente da Câmara, o mais influente membro do Senado e o governador da Bahia. Só gente graúda.
Dividam-se os contendores em dois grupos. De um lado, Fernando Henrique. Do outro, Luís Eduardo Magalhães, ACM e Paulo Souto, que chamaremos de grupo baiano.
Fernando Henrique, pés juntos, jura ter mencionado, desde o início, que só concordaria em levar o Banco Econômico à UTI se a Bahia tapasse parte do buraco da instituição: R$ 1,5 bilhão.
O grupo baiano dá gargalhadas. A arrecadação mensal de impostos da Bahia gira em torno de R$ 150 milhões. O Estado não tem de onde tirar tanto dinheiro.
Calcanhares igualmente unidos, os baianos asseguram que FHC mente. Voltou atrás, pressionado pelo Banco Central. Não admite para evitar a abertura de nova fenda em sua imagem.
A tríade baiana havia entendido que a Bahia apenas se mobilizaria para engordar o volume de depósitos do banco. Mas os R$ 3 bilhões que o BC já enterrou no Econômico, esses não voltariam tão cedo aos cofres da União.
Até porque o BC não sairia do negócio. Em regime de administração temporária, conduziria o saneamento que levaria à venda do Econômico.
Um detalhe conspira contra FHC. Na primeira nota que emitiu sobre o caso o governo admite lançar mão do regime de administração temporária. Na segunda, divulgada após o terremoto, diz que ``não se justifica a adoção" de tal regime.
É espantoso o descaso com que o dinheiro público é tratado. Discutiu-se por três dias a estatização de um banco privado. E o ponto nebuloso é justo o mico que sobraria para o contribuinte.

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