São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 1995
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CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Poucas vezes, em um lance da política, todos conseguem perder ao mesmo tempo e na mesma dimensão. O governo mostrou pusilanimidade, deu um espetáculo de fraqueza para dentro de si mesmo e de leviandade para fora.
Saiu em frangalhos do episódio que, aliás, ainda não acabou. A idéia de uma CPI para apurar irregularidades no conluio da equipe econômica com a iniciativa particular (particularíssima, aliás) mais cedo ou mais tarde será reativada. Ou seja: o governo permanecerá acuado. Até quando?
Menos grave, porém mais chocante, foi o recuo de um senador, homem maior de idade, vacinado, safenado, que deu à nação um espetáculo deprimente. Tendo ou não dossiê de irregularidades no Banco Central, o senador baiano desmoralizou-se publicamente: na sua arrogância, agrediu uma repórter da TV. Na sua leviandade, desmentiu-se no dia seguinte de forma acachapante.
Daqui para a frente a truculência de ACM deve ser encarada como de fato se mostra: uma irresponsabilidade política e uma fraqueza moral. Até certo ponto, se FHC for inteligente mesmo e não apenas um acaciano retórico, poderá se livrar para sempre das ameaças do soba da Bahia. Talvez seja esse o único lado bom da crise provocada pelo Banco Econômico: libertar o presidente das pressões de ACM e de seu grupo fisiológico.
A insuspeita Rede Globo, em sua edição de quarta-feira, revelou que na véspera da intervenção houve retiradas de R$ 500 milhões: não foram os pensionistas do INSS nem os depositantes regulares do banco que se beneficiaram criminosamente da informação privilegiada. Pergunta: até que ponto ACM defende o povo da Bahia ou os ladrões do Econômico?
O resto do povo, contudo, saiu ganhando de tudo isso. Vinda de alta fonte, também ele obteve uma informação privilegiada: a cueca do presidente não está suja. O problema agora é como fazer essa preciosa informação render alguma coisa.

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