São Paulo, sábado, 19 de agosto de 1995
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Lobby descarado

As relações promíscuas entre o setor público e a área privada não são uma exclusividade do Brasil. Elas ocorrem em toda parte do mundo, e nenhum país jamais conseguiu encontrar uma solução definitiva para o problema.
Feita essa ponderação inicial, deve-se constatar que no Brasil existe pelo menos a sensação de que o nível de promiscuidade entre o público e o privado é bem maior do que nos países do Primeiro Mundo.
De fato, episódios como o caso Dallari e, em particular, as relações do ``xerife dos preços" com o médico aposentado Roberto de Melo são tão explícitas que só podem reforçar a já triste tendência do brasileiro de achar -talvez não sem alguma razão- que vive num país altamente corrupto.
Melo agia como lobista com tamanha assiduidade que funcionários do Ministério da Fazenda se surpreenderam ao descobrir que ele não trabalhava para o governo. Ele chegou mesmo a ponto de mandar fazer cartões de visita em que se apresentava com o título de assessor do Ministério da Fazenda.
Até o Fundo Social de Emergência, que já financiou goiabada cascão e coquetel em homenagem a um empresário, pagou, irregularmente, diárias de viagem para o homem que não tem vínculo nenhum com o governo federal.
Esses detalhes que revelam a desfaçatez com que o lobby age no Brasil reforçam a necessidade de o país regulamentar essa atividade para, pelo menos, poder separar com alguma nitidez as pressões legítimas de um dado grupo de interesse dos casos de polícia.

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