São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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Econômico protegeu ACM, afirma PF

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Relatório da Polícia Federal sobre conta "fantasma" supostamente usada na campanha de Antônio Carlos Magalhães ao governo da Bahia, em 1990, afirma que o Banco Econômico "evaporou importante prova da investigação".
A PF se baseou em relatório do Banco Central, que constatou a existência de falhas no sistema de microfilmagem que registrava documentos relativos à conta 001.919516-8, pertencente à TV Bahia, de propriedade da família de ACM.
A microfilmagem é a memória de todas as movimentações financeiras de um banco. Ao verificar, a pedido da PF, em 1993, as transações da conta da TV, técnicos do Banco Central não encontraram o que desejavam.
"Constatou-se a ocorrência de falhas na microfilmagem de documentos da agência central", informa o documento assinado pelo inspetor do BC Antonio da Silva Santos.
Estavam praticamente apagados os microfilmes correspondentes a 15 dias de movimentações.
Na tarde da última quinta-feira, a Folha localizou o inspetor na sede do BC em Salvador.
Ele confirmou que havia trabalhado na confecção do relatório, mas disse apenas que nada poderia falar sobre o assunto.
Alegou "sigilo de informação" e pediu que o repórter compreendesse sua situação profissional. "Foi apenas um trabalho técnico, e eu não gostaria de comentar nada sobre isso neste momento."

Conta
A conta da TV Bahia, cujos documentos da microfilmagem não puderam ser vasculhados pelo BC, serviu de origem, segundo o Ministério Público Federal, para a abertura da conta "fantasma" que teria financiado a campanha de Antônio Carlos Magalhães ao governo da Bahia, em 1990.
Foi essa conta, de acordo com o Ministério Público e a Polícia Federal, que abasteceu, com o valor inicial de Cr$ 18,6 milhões (cerca de US$ 211 mil), a conta do correntista fictício chamado Hugo Tavares Freire Filho, aberta na agência do Citibank em Salvador.
Investigações feitas pela Receita Federal, PF e BC constataram que Hugo não existe de fato. É uma criação de quem resolveu abrir a conta "fantasma".
Se dependesse do Banco Econômico, o BC não teria descoberto que a conta "fantasma" teve origem a partir de depósitos feitos pela TV Bahia.
Só depois de investigações no Citibank foi possível chegar a essa informação.

Campanha
A migração dos recursos da conta de Hugo para a campanha de ACM, segundo o Ministério Público Federal, foi descoberta a partir de duas frentes:
1) O depoimento do empresário Thales Sarmento, que confessou ter depositado US$ 500 mil na conta "fantasma" de Hugo Tavares Freire Filho para campanhas eleitorais. Ele não especificou quais.
2) A descoberta de notas fiscais "frias" (fictícias) da TV Serra Mar, do Rio, para justificar depósitos feitos na conta "fantasma".
A Serra Mar pertencia a Cláudio Chagas Freitas, que tem ACM como padrinho de casamento, e emitia as notas como se houvesse prestado serviços a construtoras e à TV Bahia.
No seu depoimento em inquérito da PF, o diretor-administrativo da Serra Mar, Armando Borelly, disse que essa empresa nunca produziu nada para a TV Bahia e não havia prestado os demais serviços que alegava para justificar os depósitos na conta "fantasma".
Laudos grafotécnicos do Instituto Nacional de Criminalística, que presta serviços à PF, atestaram que os cheques do "fantasma" Hugo eram assinados pelo próprio gerente do Citibank na época, Renato Angelo Pereira Tourinho, parente de diretores da TV Bahia.
Laudos encomendados por ACM a empresas de peritos particulares, encaminhados à Justiça Federal, contestam os laudos oficiais da PF.

Atraso
O impasse atrasou o andamento do caso, que está na Justiça Federal da Bahia, para onde foi encaminhado depois de tramitar em Brasília.
A PF e o Ministério Público chegaram à conta "fantasma" da Bahia quando investigavam outras contas fictícias, as do empresário Paulo César Farias, nos anos de 1992 e 93.
Julgado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), PC foi condenado a sete anos de prisão pelo fato de ter movimentado contas bancárias desse tipo.

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