São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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Tiro no fígado matou tenente petista

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VILHENA

A causa da morte do tenente Rubens Fidélis de Miranda, 29, durante conflito entre policiais e trabalhadores sem-terra no último dia 9, na fazenda Santa Elina, em Corumbiara (Rondônia), foi um tiro no fígado.
Ele foi atingido quando estava sendo retirado da área do conflito por outros policiais. A informação foi obtida pela Agência Folha de um oficial que estava ao lado do tenente morto.
A Agência Folha já havia apurado, com base em informações da autópsia do tenente, que ele recebera um tiro no fígado. Antes, Miranda recebeu um tiro de raspão na testa. Ao se levantar, foi atingido por outro tiro, também de raspão, no pescoço.
Ferido, foi socorrido por outros policiais. Quando estava sendo transportado pelo soldado Silas Flausino, recebeu um terceiro tiro, no fígado, que lhe causou a morte.
Segundo o oficial que estava ao lado do tenente, suas últimas palavras foram de que não estava sentindo o ``pé esquerdo". O oficial pensou que ele tivesse sido atingido na coluna cervical.
A versão do oficial e o laudo médico da autópsia do tenente se chocam com informação anterior da PM, de que os soldados haviam sido emboscados por homens que estavam em cima de árvores.
Segundo tal versão, o tenente teria morrido em razão de um tiro na testa disparado por um dos sem-terra emboscados no topo de uma árvore. A versão é sustentada pelo ex-comandante da PM Wellington Luiz de Barros e Silva.
Estudante de Letras, Miranda era casado com Deuzimar Ribeiro Santos Miranda, sargento do 3º Batalhão da PM em Vilhena. Tinha dois filhos -Rubens, 7, e Ingrid, 6. Os dois ainda não sabem que o pai morreu.
Miranda era conhecido como uma ``intelectual" entre seus colegas de farda. Formado oficial em 94 na escola de Aspirantes da PM em Goiás, ele tinha, segundo um oficial seu amigo, ``fama de questionar as ordens e ponderar sempre por um caminho em que não houvesse choque entre as partes envolvidas".
Simpatizante do PT, Miranda participava sempre das campanhas de arrecadações do partido na cidade e auxiliava nas épocas de campanha eleitoral.
No 3º Batalhão da PM, em Vilhena, ele estava envolvido na elaboração de um jornal informativo sobre as atividades do quartel. Miranda gostava também de escrever contos.

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