São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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NA PONTA DA LÍNGUA

MARCELO LEITE

Um dos mais meticulosos leitores-colaboradores do ombudsman é Alfredo Spínola de Mello Neto, advogado em São Paulo. Sua especialidade são os pequenos assassinatos praticados por jornalistas contra a língua indefesa.
Um de seus refrãos preferidos, nos muitos fax (ou seriam ``faxes"?) que envia, é cobrar do ombudsman o argumento da ``antecipação de tendências" empregado para justificar parcialmente o banimento do trema nas páginas da Folha.
Em 31 de julho, escreveu para implicar com esse plural aí de cima, ``refrãos". Tinha aparecido no caderno Folhateen. Acostumado à quase infalibilidade de Mello Neto (a maioria de suas queixas é pertinente) e sua expressão indignada, não fiquei surpreso quando li:
``Solicito suas enérgicas providências para que aquele suplemento dê o respeito devido ao seu público em formação e pare de publicar asneiras semelhantes".
Como ele, eu também aprendi que o correto é ``refrões". Desobedecendo uma regra básica do jornalismo, pedi retificação do ``erro" à Redação sem antes verificá-lo. Fui advertido pelo Folhateen de que o ``Aurélio" adota somente as formas ``refrãos" e ``refrães".
Incrédulo, corri ao léxico. A editora, claro, estava certa. Pior, o dicionário mais famoso do Brasil tinha uma contradição: no primeiro exemplo que oferece, de Ronald de Carvalho, aparece ``refrões".
Com a ajuda do consultor da Folha Pasquale Cipro Neto e do próprio Mello Neto, fiz a ronda por outros alfarrábios. Conclusão: ``refrãos" e ``refrães" são unanimidade. Em outras palavras, o que os gramáticos têm a nos dizer, sobre isso, é que estamos todos errados.
De todo modo, o episódio serviu para arraigar a convicção, formada à custa de muita consulta a dicionários, de que asneiras podem ser cometidas por qualquer um.

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