São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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DEPOIMENTO

``Logo que comecei a tomar remédio para emagrecer, senti uma disposição diferente. Era uma menina, mas percebi que aquilo era legal. Eu morava em Rio Grande (RS) e fazia parte de uma geração que ouvia rock. Meus heróis também morreram de overdose. Aos 14 anos, fumava baseados e tomava chá de cogumelo. Aos 20 anos, experimentei pela primeira vez cocaína e bateu aquela memória eufórica do remédio para emagrecer. Meu raciocínio acelerou. Em Porto Alegre, fazendo teatro, usava cocaína. Nessa ocasião, tranquei a matrícula, fui morar em Londres e experimentei haxixe. Até então, era tudo curtição. A coisa só ficou mais frequente quando meu pai e minha mãe morreram em um espaço de dois meses. Passei a usar coca como anestésico da dor da perda. Já morando em São Paulo, com vinte e poucos anos, trabalhava em um bar, era bonitinha, viçosa, a cocaína vinha fácil. Cheirava quase todos os dias, mas nunca comprei. A vida era uma festa. Um dia me casei. Meu marido não era mais viciado do que eu, mas, quando eu não estava com vontade, ele estava. Aumentou o consumo para os dois. Foi quando fiquei grávida e parei. Ele continuou e foi internado várias vezes. Depois que meu filho nasceu, eu tive recaídas, mas jamais cheguei à quarta fase (os especialistas dividem a dependência em quatro fases -da 1ª vez que o paciente experimenta até o período em que ele fica paranóico). Hoje, estou em outra. Não posso ficar dormindo às 4h da manhã e acordando às 7h para levar meu filho à escola. Também não dá para continuar usando droga depois que a gente frequenta esses grupos de auto-ajuda. Dá uma culpa danada. Mas não posso dizer que nunca mais vou usar cocaína."

GRACE GIANOUKAS, 30, é atriz

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