São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Na França, dinheiro ajuda a cobrir déficit

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

O programa francês de privatização para este ano está atrasado. Logo, o governo não está fazendo caixa para tapar o buraco nas contas. Na França, mais dinheiro obtido com a venda de estatais significa menos déficit público.
As privatizações decolaram em 1993 e 1994, durante o governo do primeiro-ministro Édouard Balladur (RPR, conservador). Segundo as contas do governo, o déficit diminuiu o equivalente a US$ 3 bilhões nestes dois anos.
No mesmo período, aumentou também em US$ 4,9 bilhões o montante obtido com privatizações que foi usado para arrumar as contas do governo.
Segundo os critérios da União Européia, entretanto, déficit é necessidade de financiamento do setor público. O dinheiro das estatais seria apenas remendo em um buraco que permanece.
No ano passado, o déficit francês foi de US$ 59 bilhões (no critério francês). O total de recursos obtido com a venda de estatais foi de US$ 12,3 bilhões (US$ 2,1 bilhões deste total financiaram outras empresas estatais).
Neste ano, o governo pretende obter US$ 11 bilhões com a venda de estatais, mas ainda não está definido quanto deste total será aspirado pelo orçamento francês. Até agora, apenas a Seita -fabricante de cigarros- foi vendida, por US$ 1,1 bilhão.
A Usinor-Sacilor (siderúrgicas), na lista deste ano, deve render de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões. O governo espera uma quantia semelhante com o pacote Renault e Pechiney, anunciado em julho.
O anúncio, em julho, da venda dos 52,8% restantes da Renault, a maior fabricante francesa de carros, não causou comoção nem protesto sindical. Em 1990, o Estado já abrira o capital da empresa.
O programa francês de privatização começou com o primeiro-ministro Jacques Chirac, em 1986, durante a presidência do socialista François Mitterrand.
Uma lei de 1986 autorizou o governo Chirac a privatizar por ``ordonnances" (espécie de Medida Provisória).
Em 1988, reeleito, Mitterrand lança a ``Doutrina Nini", ``ni privatisations, ni nationalisations" (nem privatizações, nem estatizações). No entanto, leis de 1990 e 1991 autorizam as empresas estatais a abrir seu capital.
Com a volta ao poder de um gabinete conservador, em 1993 o primeiro-ministro Édouard Balladur lista 21 empresas ``privatizáveis"; entre elas, a Air France.

Texto Anterior: Empresas elétricas geram polêmica no Reino Unido
Próximo Texto: FHC 2?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.