São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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Sossega, Luiz Carlos

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, o colunista ao lado, decidiu contestar dados que comentei nesta coluna no último dia 6. E daí atribui-me coisas que não cabem.
Primeiro, os dados que reportei estariam errados! Os dados que ele contesta são dados publicados no boletim mensal do Banco Central. Favor conferir.
Segundo, Luiz acha que convenci a Folha a apoiar minhas críticas à política monetária. Até que ficaria honrado se tivesse tal poder de convencimento. A Folha critica a atual política absurda de juros há muito tempo por vontade própria.
O que irritou Luiz Carlos foi uma tabela produzida por Gerson Lima, da Universidade Federal do Paraná, que, pelo seu didatismo, reproduzi no artigo do dia 6.
Gerson resumiu na tabela os componentes mais importantes da dívida pública federal e indicou quanto cada componente deve custar em 1995. Chegou ao total de R$ 52,3 bilhões ou quase R$ 1 bilhão por semana.
Esse total subdivide-se em R$ 22,5 bilhões para a dívida em poder do público, R$ 4 bilhões para a dívida externa e R$ 25,8 bilhões como custo implícito da política monetária. Estamos falando de juros nominais.
Os dois primeiros itens implicam desembolsos efetivos por parte do Tesouro Nacional; o terceiro não, é um custo implícito. Julguei que tais números eram de interesse dos leitores e os reproduzi.
Vamos tentar explicar o que é o custo implícito.
Por meio do artifício da "contabilidade criativa", o maior comprador dos títulos do Tesouro é o Banco Central. O correto é o Tesouro, uma vez emitido títulos sob sua chancela, orçar ano a ano o que deve de juros. Mas o Tesouro não faz isso.
O BC, que comprou um montante enorme de papéis, vende papéis de sua emissão para o público. Outra irregularidade: o BC do Brasil é o único do mundo que faz política monetária com papéis de sua própria emissão.
Essa tal "contabilidade criativa" é usada do Brasil, em grande parte, para ocultar os custos da política monetária. Isso é possível porque o BC pode emitir moeda e tem um curioso privilégio que todo o setor privado adoraria ter.
Quando termina o ano, o BC é obrigado por lei a apresentar um balanço de suas operações. Se o resultado é positivo, abate parte de sua carteira de papéis do Tesouro. Mas, se o resultado é negativo, isso é simplesmente esquecido. Fácil, não é?
O uso e abuso dessa e de outras facetas da "contabilidade criativa" apenas ajudam a tornar as discussões mais tontas no Brasil. Só isso bastaria para condenar a "contabilidade criativa".
Não vou mais aborrecer o leitor com esse assunto; hoje disse tudo que interessa sobre esses números. Ao engenheiro Luiz Carlos: passe pela FEA para tomar umas aulinhas de economia.
PS. Que beleza a rapidez com que o Econômico foi estatizado pelo governo baiano. Se tudo na Bahia funcionasse com essa eficiência teríamos em Salvador a nossa Cingapura tropical.

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