São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
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EUA procuram solução para os cubanos acampados em sua base

PATRICIA ZENGERLE
DA "REUTER, EM GUANTÁNAMO, CUBA

Os "boat people, ou balseiros cubanos, esperavam ficar apenas algumas semanas quando pela primeira vez chegaram aqui, no verão passado no Hemisfério Norte. Mas, anteontem, mais de 12 mil permaneciam na base norte-americana de Guantánamo, no sul de Cuba, no primeiro aniversário da sua chegada.
"É um pouco cruel, um pouco desumano, diz José Antonio Nestre Dorticos, 24, ex-integrante da equipe nacional de remo. Ele diz que não consegue acreditar que está em Guantánamo desde 28 de agosto do ano passado.
"Somos gente trabalhadora, somos humanos e precisamos de outro lugar, mas feliz e pacífico, apela.
No dia 18 de agosto do ano passado, frente a uma crescente ontem de sentimento antiimigrantista nos EUA, causada pelo êxodo de dezenas de milhares de cubanos que fugiam para a Flórida, o presidente Bill Clinton anunciou uma brusca mudança na política norte-americana. Pela primeira vez em quase 30 anos, os cubanos que se lançaram ao mar não tinha residência garantida nos EUA.
Em lugar disso, eles se juntariam aos 21 mil "boat people haitianos para uma estada por prazo indefinido em barracas entre campos de pouso, praias e locais para a prática de golfe da base naval norte-americana. A base se tornou lar para 47 mil "boat people no último outono.
Autoridades dos EUA estimam que o custo para manter a área fica entre US$ 500 mil e US$ 1 milhão por dia.
Quase todos os haitianos que estavam em Guantánamo na última semana já voltaram para o Haiti, desde então. Anteontem, apenas cerca de 60 haitianos estavam ao lado dos 12.200 cubanos deixados na base norte-americana em Cuba.
A mudança da política americana, por si só, pouco fez para convencer os cubanos a não irem ao mar -cerca de 30 mil deixaram suas casas rumo à Flórida e acabaram em Guantánamo antes que um acordo entre Cuba e EUA pôs fim ao êxodo.
Ainda que soubessem que seriam levados à base, os "balseros, a palavra em espanhol para designá-los, diziam não acreditar que ficariam lá por muito tempo antes de conseguirem chegar aos Estados Unidos.
"Não, eu sempre soube, diz Francisco Brito, 47, quando questionado sobre se em algum momento teve dúvidas de que chegaria a Miami.
Ele diz que o ano de confinamento foi muito difícil, marcado por uma perigosa viagem por mar e em seguida meses passados sob guarda armada.
Washington anunciou em 2 de maio que praticamente todos os 21 mil cubanos ainda em Guantánamo seriam admitidos nos EUA -crianças, velhos e doentes já chegaram ao país.
Na semana passada, oficiais da base criaram uma loteria para determinar a ordem em que os cubanos que não se enquadram nos critérios de liberação ditos "humanitários seriam mandados para os EUA. Os ocupantes do chamado Campo Delta, que ganharam o direito de sair em outubro, dançaram, cantaram e fizeram uma "guerrinha de creme de barbear para comemorar.

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