São Paulo, domingo, 20 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Jornada aviltante

O que é, o que é que trabalha mais do que o homem, mas cujos resultados da labuta são bastante inferiores? Se você respondeu ``a formiga", errou. Como mostra relatório da ONU divulgado esta semana, a resposta correta é ``a mulher".
Pela primeira vez as Nações Unidas decidiram tentar mensurar as diferenças de oportunidades entre homens e mulheres. Nenhum país do mundo pode reclamar o título de ``discriminação zero contra as mulheres". O mais próximo deles é a Suécia. O Brasil está em 53º lugar entre as 130 nações envolvidas na pesquisa. O pior desempenho ficou com o Afeganistão.
No caso do Brasil, as mulheres recebem em média 76% dos salários pagos aos homens e ainda têm uma carga horária cerca de 13% superior, incluindo aí as atividades domésticas, que quase invariavelmente estouram nas mãos das mulheres, mesmo que trabalhem tanto ou mais do que os seus maridos. Nas áreas rurais a situação é ainda pior. A jornada feminina é 20% maior do que a masculina.
A situação de discriminação contra a mulher no mercado de trabalho, por si só já aviltante, exige uma solução ainda mais urgente quando se considera que o IBGE registra um forte incremento no número de mulheres que são chefes de família.
Salários mais baixos para as mulheres, nesse caso, vêm contribuindo para uma ``feminização" da pobreza. A ONU estima que, do total de pessoas que vivem em estado de miséria absoluta em todo o planeta, 70% são mulheres.
O que fazer para reverter esse quadro perversamente injusto? Propostas tópicas que eventualmente melhorem a situação numa ou noutra área não faltam. O fato inelutável é que a desigualdade ainda vai, infelizmente, permanecer por muito tempo reinando no planeta. Trata-se de uma guerra lenta, dura, mas que as mulheres, com o auxílio do tempo e, principalmente, da educação, fatalmente vencerão. Basta lembrar que a civilizada Suíça (19ª posição no ranking) só concedeu o direito de voto às mulheres no nada remoto ano de 1971.

Texto Anterior: Distância infinita
Próximo Texto: "Desaparecido vivo"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.