São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O poder do sexo

ALEX PERISCINOTO

O que as pessoas pensam quando não estão pensando em sexo? Existiriam coisas na vida mais estimulantes? Segundo anúncio veiculado na ``Penthouse", revista norte-americana dirigida ao público masculino, as pessoas ficam excitadas com muitas coisas, e que, ao contrário do que muita gente pensa, elas não passam o tempo todo pensando só naquilo.
E tal estímulo vem desde pássaros e abelhas, até carros, roupas, computadores, viagens, cinema e música. É o que revela, inclusive, um levantamento feito para saber quem mais anuncia na revista "Playboy".
Em primeiro lugar vêm os automóveis; em segundo, moda masculina. E em terceiro, antes dos computadores, aparecem (pasmem!) os cosméticos masculinos. Isso leva a crer que a chamada revista masculina (embora 19% de seus leitores sejam mulheres) passou a ser, na verdade, revista de prazeres masculinos.
As mulheres peladas são, com todo respeito, "um bom veículo" para os demais prazeres.
A própria revista "Playboy", por exemplo, líder do segmento aqui e no exterior, alcançou com as fotos de Adriane Galisteu a maior tiragem de uma revista mensal no país: um milhão de exemplares -nada mal se comparado com o desempenho de uma revista desse tipo nos Estados Unidos, que atinge três milhões de exemplares.
Que bom para os anunciantes e para os profissionais de propaganda. Isso me leva a arriscar profecias em torno da publicidade. E do sexo. Profecias fáceis de serem feitas, mas profecias. A exemplo de um profeta americano que, consultado sobre o que aconteceria no mundo se em vez de terem assassinado Kennedy, tivessem assassinado Khruschov, respondeu sem demora: "Onassis não teria se casado com a viúva".
Pois bem, então vou eu agora me meter a fazer profecias: "Será que no futuro a publicidade vai falar sobre sexo?" Sim, vai. Reflexo do comportamento humano, a publicidade não está para manipular e, sim, para descobrir o que o ser humano, a reboque dos seus desejos mais secretos, está querendo e ainda não lhe deram. Além de sexo, ele pode estar querendo carros, roupas, os melhores cosméticos.
Utilizar um prazer para proporcionar outros é o segredo. E a arma possível. Recentemente, a Folha, utilizando o gancho sexo, veiculou uma campanha interessantíssima para divulgar pôsteres científicos que o jornal daria como brinde aos seus leitores. Eram pôsteres que mostravam a Terra vista do espaço, espécies oceânicas, esqueletos humanos, a floresta Amazônica e constelações. Tudo, "menos mulher nua".
E, no entanto, foi em cima da imagem de mulheres belíssimas, seminuas, que protestavam pelo fato de a Folha as ter excluído de seus pôsteres, que a campanha foi realizada. Foi um sucesso: foram distribuídos quase quatro milhões de pôsteres. Científicos. O sexo aqui foi inteligentemente usado como veículo.
Ainda dentro do assunto, me vem à memória um amigo meu, que se considera sexy, cujo maior desejo é o de ser assassinado aos 110 anos de idade: por um marido ciumento. Ou ainda a singela história de um outro amigo meu, cuja filha de seis anos, fazendo a lição de casa, perguntou para ele: "Papai, o que é sexo?" Engasgado, meu amigo tentou explicar através de "era uma vez um coelhinho e uma coelhinha", ou "um dia vovô e vovozinha...". Não conseguindo sair do embaraço, partiu finalmente para a estória da cegonha. Na metade, virou-se para a menina e perguntou: "Mas por que essa pergunta sobre sexo, filha?" Ela respondeu: ``A professora mandou eu escrever aqui meu nome, idade, e sexo". Enfim, é por essas e outras que o sexo continuará sempre exercendo o poder de vender as outras coisas que as pessoas querem quando não estão pensando em sexo.

Texto Anterior: A comida de proveta
Próximo Texto: Real aumenta venda de seguros em 84,13%
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.