São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 1995
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O Ipea se manifesta

LUÍS NASSIF

A coluna recebeu a seguinte correspondência da Associação dos Funcionários do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), assinada por seu presidente Bolívar Pêgo Filho -a propósito das críticas a declarações do Diretor de Pesquisa do Rio de Janeiro, Cláudio Considera, que a coluna considerou manifestações explícitas de oficialismo:
``A política editorial e as opiniões dos diretores de plantão, que estão no centro da indignação do seu artigo, não podem ser confundidos com o trabalho do corpo técnico permanente de servidores públicos da Instituição, aqui legitimamente representados pela sua Associação."
``O `Boletim Conjuntural do IPEA' sofreu, de fato, uma intervenção editorial por iniciativa do Governo, vedando a que se comentasse livremente aspectos críticos da política econômica, principalmente no que tange aos desequilíbrios do setor externo. A atual Diretoria do IPEA aceitou tal procedimento, mas certamente não está obrigada a justificá-lo."
``O IPEA tem por missão institucional um campo amplo e ambíguo de funções que vão do assessoramento à formulação de políticas públicas, ao estudo prospectivo e avaliação pretérita do seu desempenho."
``O IPEA e o serviço público em geral, concebidos dentro dos princípios constitucionais da legalidade, publicidade, moralidade e impessoalidade dependem fortemente dos formadores de opinião pública, responsáveis, como Vossa Senhoria, para forjar sua missão institucional no interesse mais geral da sociedade, contribuindo para melhoria da capacidade de Governo."
``Isto nem sempre é entendido pelos governos, principalmente em fase inicial de instalação. Ignorando o acervo de experiência e conhecimentos daquilo que poderia se constituir no núcleo de burocracia racional de Estado, trilham os caminhos fáceis do imediatismo e auto-suficiência para logo adiante pagar o preço elevado pela desorganização institucional que produzem."
``Finalmente, queremos agradecer o interesse de Vossa Senhoria no debate das questões inerentes ao IPEA, algo que certamente nos ajuda a colocar na perspectiva do corpo técnico dilemas distintos daqueles a que Vossa Senhoria se refere, mirando certamente outras manifestações.``
A coluna agradece as explicações, desculpa-se pela generalização, e fica aliviada em saber que a velha chama do IPEA não se apagou, mesmo quando submetido a diretores que colocam as conveniências políticas de agradar a quem os indicou acima dos compromissos com a objetividade profissional e com a reputação do órgão.

Não considera
Há quatro meses o Banco Central empenha-se em jogar o país em uma recessão, concentradora de renda, alegando que a economia não pode suportar índices de crescimento pós-Real. Logo, o crescimento pós-Real não é auto-sustentável. Foi um acidente de percurso, cujo ajuste está custando caro ao país.
Mesmo assim, em artigo para edição especial do "Estadão" sobre o Real, o sr. Considera passou por sobre uma sucessão de matérias que desenhavam o atual quadro negro da quebradeira e da inadimplência, para apresentar os índices de crescimento pós-Real como a prova definitiva de que o plano é desenvolvimentista, distribuidor de renda e historicamente superior ao PAEG (o plano econômico do governo Castello). Nem esperou pela concretização das reformas constitucionais, para formular seu juízo.
Recentemente, após críticas da coluna, o sr. Considera apressou-se em publicar na própria Folha resultados de estudos oficiais do IPEA, para comprovar que o órgão não se rendia ao aficialismo.
Se o problema é o sr. Considera, não o IPEA, sugere-se que em seus próximos artigos ele evite se apresentar como diretor, justamente para não comprometer o órgão com sua falta de isenção.

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