São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 1995![]() |
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rare grooves
CARLOS CALADO
A série Rare Groove abre ao público dos anos 90 os preciosos arquivos do selo Blue Note. Entre outros achados, no final da década de 60, essa gravadora americana promoveu o dançante encontro do jazz com a soul music e o funk. Não é à toa que conhecidos grupos de jazz-rap e acid jazz -como o Us3, o Jazzmatazz ou o James Taylor Quartet- têm bebido nessa mesma fonte. Raras fusões musicais se mostram hoje tão atraentes nas pistas de dança. Também não foi outra a razão de o saxofonista Lou Donaldson, 68, voltar a receber convites para turnês pela Europa. Seus hits da era do jazz-soul são festejados pela garotada que frequenta os clubes mais descolados de Londres. Um desses sucessos é justamente "Alligator Boogaloo", faixa do CD ``The Scorpion - Live at the Cadillac Club" (de 1970), incluído nesse pacote Rare Groove. Donaldson lançou-a originalmente em 1967. Seu maior apelo estava no irresistível ``groove" (um ritmo repetitivo e dançável), que misturava jazz com o excêntrico ``boogaloo" (fusão do mambo com o rhythm & blues), bastante popular naquela época. ``Boogaloo" também é o título do álbum gravado em 68 por John Patton, um dos raros organistas daquele período que sofisticaram seus ``grooves" com as inovações do jazz contemporâneo. A faixa ``Boogaloo Boogie" é exemplar: sem perder o apelo dançante, as harmonias avançadas de Patton fazem ferver o solo raivoso do saxofonista Harold Alexander. Patton e Lou Donaldson também participam da compilação ``The Lost Grooves", aperitivo perfeito para quem está se iniciando nos balanços jazzísticos. O produtor e arranjador Bob Bolden vasculhou o baú da Blue Note até descobrir nove gravações inéditas, entre versões alternativas ou faixas que não foram aproveitadas em álbuns oficiais. ``Hold on, I'm Comin"', a faixa de abertura, é uma pequena jóia do jazz-soul. O organista Reuben Wilson recria o hit dos ``soulmen" Sam & Dave, acompanhado por três feras do jazz: Lee Morgan (trompete), George Coleman (sax) e Grant Green (guitarra). Outra verdadeira raridade é ``Spooky", um funk pesado e orquestral, com o saxofonista Stanley Turrentine liderando jazzistas de alto calibre, como Joe Farrell (sopros), McCoy Tyner (piano) e Grady Tate (bateria). Também incluído nessa compilação, o quase obscuro organista Lonnie Smith (não confundir com o tecladista Lonnie Liston Smith) pode ser melhor apreciado no CD ``Live at Club Mozambique", gravado ao vivo, em 70. O ex-parceiro de Lou Donaldson foi um dos mais convictos adeptos do jazz-soul. Entre seis composições próprias e recheadas de funk, a prova definitiva vem na longa versão de ``I Want to Thank You", sucesso de Sly Stone. O pacote se completa com ``Kofi", álbum do trompetista norte-americano Donald Byrd, com gravações registradas originalmente em 69 e 70. Quem esperar ouvir algo parecido com o que Byrd tem feito com o rapper Guru, pode se surpreender. Naquela época, o trompetista já começava a deixar o funk, experimentando o que veio a ser conhecido como jazz-rock. Outra curiosidade desse álbum está nas participações dos percussionistas brasileiros Airto Moreira e Dom Um Romão, que colorem as faixas ``Kofi" e ``Fufu" com levadas de samba e baião. Uma inesperada, mas verdadeira, fusão afro-americana. Títulos: The Lost Grooves (vários); Kofi (do trompetista Donald Byrd); Boogaloo (do organista John Patton); The Scorpion (do saxofonista Lou Donaldson); Live at Club Mozambique (do organista Lonnie Smith) Lançamentos: Blue Note/EMI Quanto: R$ 20 (cada CD, em média) Texto Anterior: Estamos aprendendo a ver duas realidades Próximo Texto: Coleção resgata seis raridades do jazz moderno Índice |
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