São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 1995
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'Zapping' dita estrutura da TV a cabo

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A TV a cabo é feita para o zapping. Seja por desleixo e encheção de linguiça -como no caso da CNN em tempos de falta de assunto-, seja por convicção -como no caso da MTV. As emissoras de TV a cabo apostam na impaciência do telespectador que não fica muito tempo parado nem em um canal, nem em frente à TV.
``Você não vai ser escravo de sua TV", afirma Patrick Goufau, diretor de marketing da MTV brasileira. Se não estiver em casa na hora da estréia do programa, terá opções em horários alternativos. Ironicamente, o projeto da emissora jovem define como metas positivas muitas das características que nos acostumamos a pensar como degradações trazidas pela TV.
A MTV se propõe a oferecer uma programação de consumo fácil, rápido e que não exige muita atenção de seu público jovem de classe AB. Na MTV você pode se satisfazer assistindo somente três minutos. Os programas mais longos da emissora são poucos e duram no máximo 30 minutos.
Curiosamente, o zapping na MTV é 50% menor que nas outras emissoras. É que ela edita seus blocos rápidos com coerência. Vende um estilo com o qual seu público se identifica, seja na programação, seja no comercial. Aliás, a distinção entre ambos se dilui. A propaganda de Nike vira parte do programa.
A NBC é tão improvisada que nem chega a divulgar o horário de sua programação. E é capaz de transmitir a mesma edição de um jornal de 30 minutos três vezes consecutivas.
Mas as duas emissoras exibem uma programação baseada em blocos curtos. Ambas supõem um telespectador inquieto, desatento, ansioso por mapear tudo que está indo ao ar naquele horário. E acabam estimulando essa atenção fragmentada. Que, como bem observou Marcelo Coelho na sua coluna da última quarta-feira, também tem a ver com a nossa decepção com a qualidade da programação estrangeira.
Os clipes da MTV podem ser assistidos separadamente como segmentos descontínuos de uma programação. As notícias de bombas, manifestações de protesto e inaugurações da NBC também. São sequências curtas e convencionais apresentadas por correspondentes das mais diferentes partes do globo, retalhos de realidade editados de maneira aleatória e descontextualizada.
A TV a cabo no Brasil ainda tem um público muito limitado. O assassinato de Cleber (Antonio Pitanga) na novela das oito foi assunto de festa na sexta-feira à noite. Aqui a fragmentação não atinge os 12 minutos máximos de atenção seguida que um telespectador da MTV americana dedica ao canal.
A GNT é generosa. Mas filmes e documentários não escapam ao zapping. O controle remoto programado para mudar automaticamente de canal a cada três minutos já está a venda nos EUA.

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