São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 1995
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Guerra é a vida em 'Conan'

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Não é por nada que todos os poderosos dementes querem acabar com os filhos daqueles a quem massacram. Pelas amostras que conhecemos, crianças que sobrevivem a carnificinas dão um trabalho louco, quando crescem: de Moisés, no Velho Testamento, a Vito Corleone, em "O Poderoso Chefão".
Não vamos esquecer o que acontece em "Conan, o Bárbaro" (SBT, 13h30). Um menino também escapa da morte. Adulto, vira Arnold Scharzenegger. É verdade que Arnold, no remoto 1982 em que foi concebido o filme, era dono de uma canastrice proporcional a seus músculos.
Mas este detalhe sucumbe diante das virtudes de uma aventura passada em uma era mitológica qualquer. O importante é enfatizar a existência de um mundo cuja crueldade é infinita, onde o valor só se afirma na luta.
É um tema caro a John Milius, militarista da primeira hora, num momento em que o Vietnã ainda não era um trauma resolvido pelos norte-americanos. No entanto, Milius distingue-se de quinhentos fazedores de filme que, todos os anos, até hoje aparecem, propondo guerra indiscriminada.
A guerra é, para ele, uma idéia. Não por acaso, os guerreiros de "Conan, o Bárbaro" respiram um ar de pureza infinita. A guerra para eles não é uma anomalia: é a própria razão de ser.
Também não é algo que leve a um fim, a uma paz: é um acontecimento arquetípico, em que estão envolvidos tanto a dor como a vontade humanas, e por isso mesmo interminável. É, enfim, um pólo do desejo tão respeitável quanto o amor.
O que não deixa de ser curioso. Milius, diretor que vai contra a corrente, é formado na geração do "paz e amor". É como se neste filme o lema se invertesse. É de guerra e amor que se trata.
(IA)

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