São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 1995
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Governo atropela comissão de Orçamento

DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo está lançando mão de um artifício para aprovar rapidamente no Congresso os pedidos de créditos suplementares e especiais ao Orçamento deste ano.
Até o momento, 33 pedidos foram encaminhados, e dez, aprovados. Seis meses depois do início da execução do Orçamento do União, o governo já pediu ao Congresso autorização para remanejar cerca de R$ 12,5 bilhões.
Na comissão, os pedidos teriam um trâmite mais longo. No plenário, sete dos pareceres de aprovação para os créditos foram orais. Um repasse de R$ 2,9 bilhões foi autorizado sem que houvesse ao menos uma sustentação escrita do relator.
O secretário do Tesouro Nacional, Murilo Portugal, disse à Folha que os recursos pedidos nos créditos têm pelo menos quatro origens: cancelamento de dotações, remanejamentos, excesso de arrecadação em outras áreas e vetos à proposta orçamentária.
Essa prática de aprovação das verbas está incomodando alguns parlamentares da oposição. O deputado Paulo Bernardo (PT-PR) fez um levantamento do envio de créditos e sua aprovação.
Segundo ele, ``existe o interesse de não submeter os pedidos à comissão, e, no plenário, com pareceres orais e sessões noturnas, aprova-se tudo muito facilmente".
Para o deputado Augusto Carvalho (PPS-DF), a votação dos créditos entram ``de contrabando".
As sessões conjuntas de Senado e Câmara acontecem geralmente à noite, quando o número de parlamentares é bastante reduzido.
Vinte e nove solicitações de créditos pedidas pelo governo foram lidas pelos parlamentares. Somadas, chegam a R$ 9,5 bilhões, o equivalente a quase 10% do valor do Orçamento da União.
Dentre os cinco que aguardam votação, está um crédito no valor de R$ 5 bilhões para empresas estatais. Algumas teles, por exemplo, já empenharam um valor muito superior a seu orçamento. É o caso da Telebahia, com dotação orçamentária de R$ 8,9 milhões, que comprometeu R$ 62,7 milhões sem a garantia de que os créditos serão aprovados.
A Telesp também ultrapassou seus gastos. Tinha disponível R$ 166 milhões e empenhou R$ 234 milhões. O ministério justificou os empenhos alegando que a verba está no caixa, pois fazia parte do Orçamento da Telebrás, e a futura aprovação é, na verdade, apenas uma autorização para usar o dinheiro.
O FSE (Fundo Social de Emergência) também tem despesas desequilibradas. Os gastos são de R$ 15 bilhões, enquanto a arrecadação foi de R$ 9 bilhões.

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