São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 1995
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'Staff' de FHC acha que Sarney faz chantagem

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relacionamento entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP), está cada vez mais tenso. As sucessivas críticas de Sarney ao governo chegam a ser definidas pela cúpula tucana como chantagem.
Nos bastidores, integrantes do primeiro escalão já dizem que foi um erro o governo não ter se empenhado mais para tentar eleger outro candidato à presidência do Congresso no início do ano.
Na avaliação do ``staff" tucano, Sarney, que governou o país entre 1985 e 1990, está criando obstáculos para o governo no Congresso como forma de pressão. Seu objetivo seria conseguir uma maior liberação de verbas federais para o Maranhão, Estado governado por sua filha, Roseana Sarney (PFL).
Segundo interlocutores próximos de FHC, Sarney também estaria descontente porque, até agora, não conseguiu do governo o aval para a criação de uma nova ALC (Área de Livre Comércio) no Amapá, Estado que o elegeu senador da República. O Amapá já possui uma ALC -espécie de Zona Franca, como existe em Manaus- em Macapá.
O governo, no entanto, resiste à idéia. As indústrias e o comércio instalados nas ALCs não pagam IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) ao comprar no mercado interno. Também não pagam II (Imposto sobre Importação) ao adquirir produtos importados.
As críticas chegaram ao seu tom máximo quando a oposição obteve o número mínimo de assinaturas de parlamentares no Senado para a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o Banco Central e o sistema financeiro.
Os governistas esperavam o apoio do presidente do Congresso para tentar adiar a instalação da comissão. O argumento era que uma investigação agora paralisaria a tramitação das reformas constitucionais e traria instabilidade ao sistema financeiro.
Mas Sarney afirmou que ``não havia encontrado obstáculos regimentais". A ``pressa" de Sarney, segundo análise da cúpula política de FHC, fez com que os líderes do governo no Senado tivessem de enfrentar uma maratona para tentar convencer os parlamentares a retirar as assinaturas do requerimento.
No fim, o rolo compressor do governo foi bem-sucedido. Das 30 assinaturas iniciais do requerimento, foram retiradas 7. Eram necessárias 27 no Senado para a instalação da CPI.
O senador também vem bombardeando sistematicamente uma proposta considerada prioritária pelo governo: a emenda constitucional que propõe a prorrogação do FSE (Fundo Social de Emergência) até 1999.
Para tentar minar as resistências, o próprio FHC entrou em cena. Em reunião com senadores tucanos, fez um apelo pela aprovação do FSE.

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