São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 1995
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Curioso paradoxo

Para Marx, o que determinava o valor de uma dada mercadoria era o tempo de trabalho socialmente necessário para que o produto fosse fabricado. Os métodos de produção, de Marx até hoje, se modificaram e se sofisticaram.
O sucesso do novo ``Windows 95", porém, mostra quase que em estado puro que essa tese marxista acerca do valor da mercadoria parece correta. O valor físico de um programa de computador, seja em disquetes, seja em CD-ROM, conta-se na casa das poucas unidades de dólar. Já o ``recheio", ou seja, o acúmulo de informações nele contido, que envolve o trabalho de dezenas, às vezes centenas, de técnicos altamente especializados, é o que em última análise determina o preço da mercadoria. Assim, um joguinho infantil que incorpora pouco trabalho custa apenas algumas dezenas de reais; já um exemplar eletrônico da Encyclopaedia Britannica sai por US$ 1.600, apenas US$ 200 a menos do que seu equivalente em quase 50 volumes de papel de luxo e encadernação em couro.
O que se vende hoje é informação quase que em estado bruto. Mas só a demanda por informação é incapaz de explicar o sucesso de vendas do ``Windows 95". O marketing ajuda, e muito. A Microsoft não poupou despesas em sua campanha mundial de marketing.
Os números apresentados pela empresa também têm cheiro de campanha. Se em uma semana de comercialização já foram vendidos 15 milhões de exemplares, o que se previa vender em seis meses, então os profissionais da Microsoft erraram tão espetacularmente que não estão habilitados nem mesmo para produzir o mais simples dos programas de computador.
Como este não é o caso, a conclusão forçosa é que hoje se vende informação por meio da desinformação. Curioso paradoxo.

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