São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 1995
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O exemplo da Caixa

VALDO CRUZ

BRASÍLIA - A superintendência da Caixa Econômica Federal em Recife estava de mudança para uma nova e suntuosa sede. Um prédio inteligente, alugado por R$ 250 mil mensais, que abrigaria 1.200 funcionários.
A diretoria da Caixa, em Brasília, decidiu brigar com os políticos e propor a extinção dessa e de mais 30 superintendências espalhadas pelo país. Afinal, elas serviam mais aos interesses de partidos do que aos dos clientes.
Vencida a batalha, o presidente da CEF, Sérgio Cutolo, se livrou do aluguel, repassado para a Justiça pernambucana. No lugar da superintendência vai surgir um escritório de negócios.
Para comandá-lo serão necessários pouco mais de cem funcionários. Eles farão o trabalho que antes 1.200 faziam -ou deixavam de fazer. Os 1.100 restantes deixam a burocracia e passam a se dedicar diretamente ao cliente.
Esse é apenas um dos problemas detectados por Cutolo e sua equipe. Enquanto o cliente era mal-atendido, sobrava gente nos escritórios. A Caixa chegou a consumir 40% de suas despesas em atividades burocráticas, nada menos do que R$ 1,03 bilhão.
A meta é reduzir esses gastos para 25%. Para isso, não só a sede de Recife sairá das mãos da Caixa. As outras 30 terão o mesmo destino -as 29 próprias serão vendidas e a de Goiânia, também alugada, será devolvida ao seu dono.
O trabalho já está dando resultado. A Caixa fechou o primeiro semestre de 95 com um prejuízo operacional de R$ 70 milhões, bem menor do que os R$ 2,6 bilhões de 94. Computando-se os efeitos da inflação, deu até um lucro de R$ 142 milhões no semestre.
A recuperação da Caixa mostra que o governo optou pelo caminho certo ao enfrentar as pressões de parlamentares e escolher técnicos para a sua direção. Nos últimos anos, administrações políticas dilapidaram a Caixa, provocando em algumas regiões uma inadimplência de 70% a 90% -reflexo do empréstimo concedido em troca de votos.
O presidente Fernando Henrique Cardoso deveria ter agido da mesma forma quando decidiu tratar do futuro do Banco Econômico, afastando os políticos das negociações. Acabaria de vez com o mito ACM e preservaria o dinheiro do contribuinte.

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